Conversando com uma amiga há muitos anos, ela dizia que o inglês era uma das línguas mais complexas e com o vocabulário mais amplo que ela conhecia [ela falava espanhol e italiano, também, e, acho, francês]. Desconfiei na hora: como assim? Uma língua que nem precisa conjugar o verbo?
Claro que anos após essa conversa, e depois de ter morado em Londres, a minha opinião mudou. Não que eles conjuguem os verbos na Inglaterra - hoje, ao menos, é beeem incomum ouvir um "thou hast" - mas a gama de verbos, adjetivos e substantivos, que, aliás, são intercambiáveis, é absolutamente imensa. Tomemos por exemplo um verbo simples, banal, tipo "brew". A tradução mais simples é "fermentação". Mas não dá para traduzir isso. É bem mais. Principalmente porque dá para "brew" o "tea".
Pode-se argumentar que os povos desenvolvem as palavras de acordo com as suas necessidades, como acontece com o sempre citado exemplo da quantidade de tons - e palavras para esses tons - que os inuit conseguem "enxergar" no branco da neve. Ou, demonstrando a importância que essa parte da anatomia tem entre nós, aquela famosa tentativa do primeiro número da revista "Bundas" [link é luxo] de listar todos os sinônimos em português para as nádegas. Ou a quantidade de palavras - todas ligeiramente diferentes entre si - que Pete Brown conseguiu reunir no seu livro "A man walks into a pub". Cada um com as suas prioridades.
O certo, porém, é que, assim como há o Hochdeutsche, há uma outra língua inglesa além daquela falada comumente nos filmes hollywoodianos ou que você aprende no cursinho. Para se ter uma ideia, a wikipedia tem uma página chamada "Simple English" exatamente com uma gramática e um vocabulários mais... simples.
Alberto Manguel - o escritor - também comentou essa, digamos, capacidade de adaptação da língua inglesa atualmente. Ele, que é argentino de nascimento, mas, como filho de diplomata, teve como primeira língua o idioma de Shakespeare, disse que o inglês estaria se comportando não somente como o esperanto, no sentido de ser a língua falada por todos, em todos os lugares, mas também como o latim.
Ele lembrou que o latim foi se "vulgarizando" [na primeira acepção do Houaiss: "relativo ou pertencente à plebe, ao vulgo; popular"] e, como consequência, deu nos nossos conhecidos idiomas do sul da Europa. Somos / falamos a última flor do lácio, não? O que nos leva a pensar quais seriam as consequências dessa "vulgarização" do inglês. Talvez nos EUA já tenhamos um vislumbre disso, com a influência cada vez mais potente do espanhol. Sempre me lembro, nesse caso, da famosa cena de "Blade Runner" [que eu já descrevi, aparentemente, de maneira errada aqui e aqui].
Outro detalhe que me pareceu interessante na fala de Manguel se refere a afirmação de que uma das características das línguas vivas é exatamente estar sempre em mutação, não poder ser nunca aprisionada, dicionarizada por completo. A única língua que não se modifica é aquela que está exatamente morta. Como o latim, por exemplo. Qual será o futuro do inglês?
Claro que anos após essa conversa, e depois de ter morado em Londres, a minha opinião mudou. Não que eles conjuguem os verbos na Inglaterra - hoje, ao menos, é beeem incomum ouvir um "thou hast" - mas a gama de verbos, adjetivos e substantivos, que, aliás, são intercambiáveis, é absolutamente imensa. Tomemos por exemplo um verbo simples, banal, tipo "brew". A tradução mais simples é "fermentação". Mas não dá para traduzir isso. É bem mais. Principalmente porque dá para "brew" o "tea".
Pode-se argumentar que os povos desenvolvem as palavras de acordo com as suas necessidades, como acontece com o sempre citado exemplo da quantidade de tons - e palavras para esses tons - que os inuit conseguem "enxergar" no branco da neve. Ou, demonstrando a importância que essa parte da anatomia tem entre nós, aquela famosa tentativa do primeiro número da revista "Bundas" [link é luxo] de listar todos os sinônimos em português para as nádegas. Ou a quantidade de palavras - todas ligeiramente diferentes entre si - que Pete Brown conseguiu reunir no seu livro "A man walks into a pub". Cada um com as suas prioridades.
O certo, porém, é que, assim como há o Hochdeutsche, há uma outra língua inglesa além daquela falada comumente nos filmes hollywoodianos ou que você aprende no cursinho. Para se ter uma ideia, a wikipedia tem uma página chamada "Simple English" exatamente com uma gramática e um vocabulários mais... simples.
Alberto Manguel - o escritor - também comentou essa, digamos, capacidade de adaptação da língua inglesa atualmente. Ele, que é argentino de nascimento, mas, como filho de diplomata, teve como primeira língua o idioma de Shakespeare, disse que o inglês estaria se comportando não somente como o esperanto, no sentido de ser a língua falada por todos, em todos os lugares, mas também como o latim.
Ele lembrou que o latim foi se "vulgarizando" [na primeira acepção do Houaiss: "relativo ou pertencente à plebe, ao vulgo; popular"] e, como consequência, deu nos nossos conhecidos idiomas do sul da Europa. Somos / falamos a última flor do lácio, não? O que nos leva a pensar quais seriam as consequências dessa "vulgarização" do inglês. Talvez nos EUA já tenhamos um vislumbre disso, com a influência cada vez mais potente do espanhol. Sempre me lembro, nesse caso, da famosa cena de "Blade Runner" [que eu já descrevi, aparentemente, de maneira errada aqui e aqui].
Diálogo em húngaro, alemão, francês...
Outro detalhe que me pareceu interessante na fala de Manguel se refere a afirmação de que uma das características das línguas vivas é exatamente estar sempre em mutação, não poder ser nunca aprisionada, dicionarizada por completo. A única língua que não se modifica é aquela que está exatamente morta. Como o latim, por exemplo. Qual será o futuro do inglês?
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