sábado, 24 de novembro de 2012

Van Gogh no cinema

Se ninguém fez um livro ou filme sobre a vida de Van Gogh [em inglês, dizem "góf", em português, "gogue", mas em holandês é "gór"], deveria. Pelo menos a partir do momento em que ele vai para Arles até a sua morte.
Assim eu comecava um texto em fevereiro, quando voltei de uma viagem a Amsterdã, onde visitara o museu dedicado a Vincent. Na época, por minha incapacidade de pesquisar direito, não encontrei "Lust for life", do diretor Vincente [olhaí] Minnelli, pai de Liza, e cujo nome de batismo é outro: Lester Anthony Minnelli.


Não que eu tenha aprendido a pesquisar, mas tropecei nessa informação ao ler sobre a nova biografia do pintor holandês, cujo processo de tradução nós tivemos o prazer de acompanhar no site que a Denise Bottmann criou - e que ainda é possível visitar. Aliás, uma das grandes polêmicas que esse calhamaço de mais de mil páginas promete se refere ao fim de Van Gogh: ele não teria se matado, mas teria sido assassinado, sem querer, por um garoto - junto do seu irmão - de Auvers.
Van Gogh teria protegido os dois por razões basicamente existenciais, como uma espécie de martírio voluntário naquela situação extremamente difícil e insolúvel em que vivia - pessoal, artística, social, familiar, financeira, física e mental. por convicção e credo próprio, jamais procuraria a morte deliberadamente, como disse certa vez, "mas não tentaria escapar se acontecesse". - escreve Denise.
 De toda forma, o filme de Minnelli é extremamente interessante, para dar um panorama se não completo - que é impossível - bem "verdadeiro" da vida e obra de Van Gogh. Uma de suas vantagens é, com exceção da exagerada atuação de Kirk Douglas [o pai de Michael], que interpreta Vincent, ser completamente atual.

A história, baseada no livro de Irving Stone, o mesmo que também escreveu "The agony and the ecstasy" sobre Michelangelo, envelheceu muito bem. Anthony Quinn, como o másculo Paul Gauguin, é incrível. Lembra bastante o Ernest Hemingway de Corey Stoll, em "Midnight Paris", por exemplo. É dele, certamente, a melhor fala do filme: "Dignity? I'm talking about women, man, women. I like 'em fat and vicious and not too smart. Nothing spiritual, either. If I had to say 'I love you', it'd break my teeth. I don't want to be loved."

Além do ritmo ágil, da sucessão de acontecimentos quase ininterruptos, que - imagino - deve ter assustado os seus contemporâneos, é muito divertido ficar pescando as referências aos mais famosos quadros de Vincent, nas cenas que se passam: a família comendo batatas, o seu quarto e sua casa amarela em Arles, o interior dos bares que ele frequentava, o exterior, os girassóis, os ciprestes, o carteiro, o doutor Gachet, entre muitos outros. Praticamente toda cena, a partir do momento em que Vincent vai morar em Arles, tem uma referência. É quase uma brincadeira à parte.

Ao fim, conseguimos enxergar ao menos uma face desse artista tão curioso que é sempre citado como alguém fora do seu tempo. Mas uma face bem interessante.

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