Tivemos problemas, sim, para instalar internet e telefone fixo quando morávamos na Inglaterra, mas, depois de instalados, nunca fizemos qualquer reclamação com a empresa, TalkTalk. Jamais ligamos para nos queixar do serviço, nunca ficamos sem banda, e nossa conexão era incrivelmente rápida. Eles entregavam aquilo que prometiam. O que, sabemos, não acontece no Brasil.
Não sei qual é a justificativa oficial das empresas de telecomunicações brasileiras para o péssimo funcionamento dos seus serviços. Mas não conheço ninguém - ninguém - que esteja satisfeito com o que tem. No caso de celular, por exemplo, é extremamente comum os consumidores irem pulando de empresa em empresa e, após um tempo, ficar sem opção. Na internet, com menos frequência, acontece o mesmo.
Fala-se que o consumidor brasileiro somos extremamente passionais na hora de decidir a nossa compra, mas acredito que isso seja fruto do fato de sermos constantemente aviltados, desonrados, humilhados no nosso direito simples de ser bem atendido. Aqui, nunca o cliente tem a razão.
O consumidor nos sentimos enganado a todo momento. Por que o sinal do meu telefone sempre cai? Porque a empresa derruba. De onde vieram tantas ligações na minha conta de celular? Por que a minha internet normalmente não funciona? Somos trapaceados por empresas que prometem o que não podem na tentativa de angariar mais e mais clientes.
Isso me lembra na época das privatizações, onde se argumentava que era necessário tirar da mão do Estado certas empresas porque o governo não teria a agilidade para se adaptar às então novas tecnologias. Mas as empresas que compraram o nosso sistema de telecomunicações estavam preparadas?
O processo de privatização foi e é sempre o mesmo. Sucateiam uma empresa para demonstrar como ela não funcionava, como o Estado é ineficiente e, então, a vendem a ridículos preços. Se quiserem um exemplo fora das telecomunicações, pense na Vale. Se quiser fugir do governo Fernando Henrique, grande responsável pela venda de boa parte do patrimônio público, principalmente da parte de telecomunicações com o ministro Sérgio Motta, pense no que está sendo feito, agora, com os aeroportos e a Infraero.
O processo é o mesmo. Deixa-se uma empresa pública sem investimento, para ela ir amargando, afinando, e depois a possibilidade de venda surge como a única capaz de resolver o problema. Curiosamente, o processo também começou com Petrobras, mas o apelo popular foi maior e agora ninguém mais diz que a companhia de petróleo é ineficiente ou não é grande o suficiente para competir no mercado internacional. Ninguém mais a chama de Petrossauro.
Mas é nos serviços, no tratamento diretamente com o cliente final é que vemos como essas empresas privadas não sabem lidar com o público. Já comentei [não lembro onde] que o fato de os transportes públicos em Londres serem públicos, estatais, controlados pela prefeitura é, na minha opinião, o principal motivo para que o serviço funcione. O passageiro não é tratado como um cliente, como é visto pelas empresas concessionárias cariocas, por exemplo, onde há cotas para gratuidades, e para quantidade de pessoas que eles devem pegar a cada rodada. Ele é visto exatamente como ele é: como passageiro, o cara que tem que pegar o ônibus para ir de um lugar a outro. Há uma organização maior, que ultrapassa as barreiras das competições entre empresas. Pensa-se o todo, não em separado.
E, claro, as empresas de telecomunicação também tratam os consumidores como lixo. Onde você olhar vai encontrar informações que essas companhias são as campeãs de reclamações. Porque sem o controle do Estado sobre essas atividades, as empresas vão continuar mentindo, agindo de má-fé, praticando as piores ações, enganando os consumidores. O governo FH até criou a Anatel, mas a única vez que ela praticou algo que fosse de relevância nacional foi neste ano, quando impediu que as empresas de celular vendessem chips.
Em vez de comemorarmos o aumento do número de celulares no Brasil, mais que um por pessoa, proporcionalmente, deveríamos pensar que quantidade não é nada sem qualidade.
ps. Esse post teve patrocínio do vizinho e sua simpática internet aberta.
Não sei qual é a justificativa oficial das empresas de telecomunicações brasileiras para o péssimo funcionamento dos seus serviços. Mas não conheço ninguém - ninguém - que esteja satisfeito com o que tem. No caso de celular, por exemplo, é extremamente comum os consumidores irem pulando de empresa em empresa e, após um tempo, ficar sem opção. Na internet, com menos frequência, acontece o mesmo.
Fala-se que o consumidor brasileiro somos extremamente passionais na hora de decidir a nossa compra, mas acredito que isso seja fruto do fato de sermos constantemente aviltados, desonrados, humilhados no nosso direito simples de ser bem atendido. Aqui, nunca o cliente tem a razão.
O consumidor nos sentimos enganado a todo momento. Por que o sinal do meu telefone sempre cai? Porque a empresa derruba. De onde vieram tantas ligações na minha conta de celular? Por que a minha internet normalmente não funciona? Somos trapaceados por empresas que prometem o que não podem na tentativa de angariar mais e mais clientes.
Isso me lembra na época das privatizações, onde se argumentava que era necessário tirar da mão do Estado certas empresas porque o governo não teria a agilidade para se adaptar às então novas tecnologias. Mas as empresas que compraram o nosso sistema de telecomunicações estavam preparadas?
Lembram dele? |
O processo é o mesmo. Deixa-se uma empresa pública sem investimento, para ela ir amargando, afinando, e depois a possibilidade de venda surge como a única capaz de resolver o problema. Curiosamente, o processo também começou com Petrobras, mas o apelo popular foi maior e agora ninguém mais diz que a companhia de petróleo é ineficiente ou não é grande o suficiente para competir no mercado internacional. Ninguém mais a chama de Petrossauro.
Mas é nos serviços, no tratamento diretamente com o cliente final é que vemos como essas empresas privadas não sabem lidar com o público. Já comentei [não lembro onde] que o fato de os transportes públicos em Londres serem públicos, estatais, controlados pela prefeitura é, na minha opinião, o principal motivo para que o serviço funcione. O passageiro não é tratado como um cliente, como é visto pelas empresas concessionárias cariocas, por exemplo, onde há cotas para gratuidades, e para quantidade de pessoas que eles devem pegar a cada rodada. Ele é visto exatamente como ele é: como passageiro, o cara que tem que pegar o ônibus para ir de um lugar a outro. Há uma organização maior, que ultrapassa as barreiras das competições entre empresas. Pensa-se o todo, não em separado.
E, claro, as empresas de telecomunicação também tratam os consumidores como lixo. Onde você olhar vai encontrar informações que essas companhias são as campeãs de reclamações. Porque sem o controle do Estado sobre essas atividades, as empresas vão continuar mentindo, agindo de má-fé, praticando as piores ações, enganando os consumidores. O governo FH até criou a Anatel, mas a única vez que ela praticou algo que fosse de relevância nacional foi neste ano, quando impediu que as empresas de celular vendessem chips.
Em vez de comemorarmos o aumento do número de celulares no Brasil, mais que um por pessoa, proporcionalmente, deveríamos pensar que quantidade não é nada sem qualidade.
ps. Esse post teve patrocínio do vizinho e sua simpática internet aberta.
Um comentário:
O que mais me assusta nessa história toda é o Governo criar um Plano Nacional de Banda Larga para a tão festejada (e já surrada verbalmente) inclusão digital com um máximo de 1 Giga. Nem na Índia é assim (país enorme, populoso e que tem níveis parecidos de C,T & I),
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