[Texto publicado originalmente no site da Revista de História]
O filme “A dama de ferro” recebeu críticas à época do lançamento em 2011 por não ter abordado, na opinião dos críticos, com a devida importância o lado liberal da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. Thatcher, como se sabe, morreu nesta semana, aos 77 anos, vítima de um derrame.
É verdade. O filme, da diretora Phyllida Lloyd [que já tinha feito “Mamma mia” igualmente com Meryl Streep], tenta dar um apanhado geral da vida da mulher que comandou as ilhas britânicas de 1979 a 1990. E, dentro desse apanhado, suas posições direitistas ocupam um espaço tão importante quanto qualquer outro aspecto, como sua adolescência trabalhando com o pai em uma vendinha, sua passagem para a Universidade de Oxford, sua entrada no partido Conservador e a sua escalada até o poder.
São retratados, também, toda a onda de protestos que o governo dela enfrentou, por conta de suas políticas de estado-mínimo, que privatizou companhias estatais estratégicas, criou uma massa de descontentes, e deu nome a uma era: tatcherismo. É mostrado até o ataque a bomba perpetrado pelo Exército Revolucionário Irlandês em um encontro do partido conservador em 1984. Sua vida não foi pouco atribulada quiçá sem polêmica.
No entanto, pareceu pouco, pouco, na opinião dos críticos, para mostrar a vida da única mulher que assumiu o principal cargo político das ilhas britânicas. A começar, a cinebiografia é narrada como se fosse um longo diálogo [imaginado] entre Margareth e seu marido, já então falecido, Denis Tatcher, de quem ela recebeu o sobrenome. Na cena inaugural, ela chega em casa e, como uma dona-de-casa comum, reclama do preço dos produtos do supermercado. A intenção é clara: Margareth não deixou de ser a filha do dono da quitanda.
É esse o principal argumento de todo o longa. Mostrar que a dama considerada de ferro era, ao fim e ao cabo, uma mulher simples, que entendia de política e economia como qualquer pessoa que tem uma vendinha. Esse estigma, de ser filha de um quitandeiro, e não descendente de uma família nobre, como é razoavelmente comum entre os membros do partido Conservador inglês, é, inclusive, um motivo de chacota durante toda a sua carreira política.
Essa forma de lidar com a política é, segundo a intepretação do filme, os principais pontos positivo e negativo de Tatcher. Se ela não deixou a simplicidade de lado jamais, também se colocou como um exemplo a ser seguido. Talvez o único. Sua política liberal, sua diminuição do estado social, era uma continuação da sua política da quitanda. Como se dissesse: se eu consegui sair de trás do balcão e chegar aqui, à frente de uma das nações mais importantes do mundo, qualquer um pode chegar também.
A mulher do estado mínimo, da aposta na competição, no mercado, desconsidera um dos fatores mais importantes da questão: o indivíduo e todas as suas diferenças entre si. Acredita apenas numa ideia quase darwinista, em que os mais fortes sobreviverão, enquanto os mais fracos devem ser deixados para trás na cadeia evolutiva.
Ao humanizá-la, ao tentar traçar uma explicação mais psicológica, menos maniqueísta, uma razão para as suas atitudes que reflitam sua biografia, de mulher bem sucedida, o filme mostra que ela não era um monstro que apenas pensava no bem de poucos, em detrimento de muitos. Isso não a impedia, claro, de tomar atitudes controversas, antipopulares, para seguir os seus ideais de vida e política. Ao fim, talvez não tenhamos uma grande coleção da vida política da dama de ferro. Mas percebemos que, ao menos, era uma mulher com princípios. Menos pior que uma direita disfarçada, é uma direita que não tem vergonha de mostrar a cara.
O filme “A dama de ferro” recebeu críticas à época do lançamento em 2011 por não ter abordado, na opinião dos críticos, com a devida importância o lado liberal da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. Thatcher, como se sabe, morreu nesta semana, aos 77 anos, vítima de um derrame.
É verdade. O filme, da diretora Phyllida Lloyd [que já tinha feito “Mamma mia” igualmente com Meryl Streep], tenta dar um apanhado geral da vida da mulher que comandou as ilhas britânicas de 1979 a 1990. E, dentro desse apanhado, suas posições direitistas ocupam um espaço tão importante quanto qualquer outro aspecto, como sua adolescência trabalhando com o pai em uma vendinha, sua passagem para a Universidade de Oxford, sua entrada no partido Conservador e a sua escalada até o poder.
São retratados, também, toda a onda de protestos que o governo dela enfrentou, por conta de suas políticas de estado-mínimo, que privatizou companhias estatais estratégicas, criou uma massa de descontentes, e deu nome a uma era: tatcherismo. É mostrado até o ataque a bomba perpetrado pelo Exército Revolucionário Irlandês em um encontro do partido conservador em 1984. Sua vida não foi pouco atribulada quiçá sem polêmica.
No entanto, pareceu pouco, pouco, na opinião dos críticos, para mostrar a vida da única mulher que assumiu o principal cargo político das ilhas britânicas. A começar, a cinebiografia é narrada como se fosse um longo diálogo [imaginado] entre Margareth e seu marido, já então falecido, Denis Tatcher, de quem ela recebeu o sobrenome. Na cena inaugural, ela chega em casa e, como uma dona-de-casa comum, reclama do preço dos produtos do supermercado. A intenção é clara: Margareth não deixou de ser a filha do dono da quitanda.
É esse o principal argumento de todo o longa. Mostrar que a dama considerada de ferro era, ao fim e ao cabo, uma mulher simples, que entendia de política e economia como qualquer pessoa que tem uma vendinha. Esse estigma, de ser filha de um quitandeiro, e não descendente de uma família nobre, como é razoavelmente comum entre os membros do partido Conservador inglês, é, inclusive, um motivo de chacota durante toda a sua carreira política.
A mulher do estado mínimo, da aposta na competição, no mercado, desconsidera um dos fatores mais importantes da questão: o indivíduo e todas as suas diferenças entre si. Acredita apenas numa ideia quase darwinista, em que os mais fortes sobreviverão, enquanto os mais fracos devem ser deixados para trás na cadeia evolutiva.
Ao humanizá-la, ao tentar traçar uma explicação mais psicológica, menos maniqueísta, uma razão para as suas atitudes que reflitam sua biografia, de mulher bem sucedida, o filme mostra que ela não era um monstro que apenas pensava no bem de poucos, em detrimento de muitos. Isso não a impedia, claro, de tomar atitudes controversas, antipopulares, para seguir os seus ideais de vida e política. Ao fim, talvez não tenhamos uma grande coleção da vida política da dama de ferro. Mas percebemos que, ao menos, era uma mulher com princípios. Menos pior que uma direita disfarçada, é uma direita que não tem vergonha de mostrar a cara.
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