Capa de "O Globo" de hoje: polícia diz que manifestação ontem no Centro do Rio de Janeiro tinha 7 mil participantes. Sindicato dos professores contou 100 mil.
Além de demonstrar pontapés homéricos de ambos os lados e um serviço de propaganda disfarçada que quase nos deixa na curiosa situação de fazer uma média aritmética [havia, então, 53,5 mil manifestantes], a contagem de público - já um clássico da polêmica há gerações - serve também como metáfora da forma como nós estamos encarando as manifestações deste estranho 2013. Exageros para ambos os lados. Ao chutes. Um brincadeira de polícia & bandido em que os sinais estão trocados: a polícia é que é ruim. Como se cada um dos lados usasse o outro para justificar seus atos extremos.
Agora, isso aqui de cima - registrado ontem, na Rua de Santana, não pode acontecer. Parece que o policial vai preso
Quero sugerir uma hipótese: acreditar, teoricamente, em um dos lado, sem censuras. Quero ver aonde isso nos leva. Escolho o lado da polícia-bandida-governo-mídias-tradicionais: os protestos são sempre pacíficos, mas há um grupo de mascarados infiltrados que praticam atos de vandalismo, quebrando patrimônio público e privado [essa frase, ou variações muito sutis dela, está em praticamente todos os vídeos dos telejornais da Globo sobre os protestos a que eu assisti].
Comecemos: há, então, vândalos - essa categoria estranha, amorfa. Gente que quer causar a destruição parcial ou total de algo. Gente que quer enfrentar a polícia. Mas, aqui, já, me surgem problemas - e que eu acho estranhíssimo que não surjam para ninguém mais. Eu começo a me perguntar: por quê? Por que eles querem causar a destruição? Por que eles querem enfrentar a polícia? Por quê? Ninguém se faz essas perguntas?
Vamos começar a especular, a partir do que é possível um sujeito mediano ter lido. Não é curioso que não tenha havido qualquer estrago ao Theatro Municipal, à Biblioteca Nacional, ou ao Museu Nacional de Belas Artes, que ficam, todos, ao redor da Câmara dos Vereadores, na Cinelândia, epicentro de todas as manifestações, bloco de chegada de todas as passeatas, e foco de todos os protestos? Não é curioso, no mínimo, que os quebra-quebra tenham como alvo prédios simbólicos, como a própria Câmara, ou a Assembleia dos deputados estaduais, ou ainda bancos? Na pior das hipóteses, houve saque em lojas de produtos de consumo: TVs, bolsas, telefones celulares. Mas são casos de muito menor alcance - até mesmo porque as mídias tradicionais não deram tanta atenção a isso, e seria uma ótima pedida para se falar bastante. Não quer representar alguma coisa o fato de os protestos terem começado, lá no já longínquo junho, por conta dos péssimos meios de transporte, os manifestantes mais exaltados tacarem fogo em ônibus?
O que querem, afinal, os tais black blocs? Dizer, aliás, que eles são um grupo uníssono já é errar de primeira. Dizer que eles querem a mesma coisa, idem. Dizer que eles acertam sempre - igualmente. Mas - novamente caio no mesmo problema - por que eles saem de casa, se fantasiam de vingadores mascarados, e enfrentam a polícia que é, nitidamente, mais preparada e covarde que eles? Por que se expor assim, e ainda ter a chance de ir preso? Por quê?
Novamente, vamos às especulações: querem o anarquismo. Querem uma sociedade mais justa. Querem proteger os demais manifestantes. Querem ser uma vanguarda incendiária. São sádicos.
Para todas essas questões, há formas mais inteligentes de tratar o problema - se isso for realmente um problema - do que a que foi tratada até agora. Aumentar a violência contra eles só vai fazer nascer mais black blocs. Veja o caso da repressão violenta [e corrupta] ao crime organizado, que a polícia pratica desde sempre aonde nos levou: uma sociedade ainda mais violenta.
Por que, em vez de apenas negá-los como uma espécie de câncer no tecido tão em funcionamento das manifestações, que basta ser extirpado para que tudo funcione perfeitamente, não tentar entendê-los? Não é descobrir suas reivindicações, porque talvez eles nem as tenham, mas ouvi-los. Descobrir o que os leva a sair de casa, por que eles têm tanta vontade, tanta raiva assim.
De toda forma, há, ao menos, um resultado infinitamente positivo nas atitudes desse "bando de mascarados". Agora, eles é que são o problema. Antes de junho, as manifestações eram vistas - pelos governos, mídia, enfim, o status quo - como um problema em si. Certamente avançamos.
Além de demonstrar pontapés homéricos de ambos os lados e um serviço de propaganda disfarçada que quase nos deixa na curiosa situação de fazer uma média aritmética [havia, então, 53,5 mil manifestantes], a contagem de público - já um clássico da polêmica há gerações - serve também como metáfora da forma como nós estamos encarando as manifestações deste estranho 2013. Exageros para ambos os lados. Ao chutes. Um brincadeira de polícia & bandido em que os sinais estão trocados: a polícia é que é ruim. Como se cada um dos lados usasse o outro para justificar seus atos extremos.
Agora, isso aqui de cima - registrado ontem, na Rua de Santana, não pode acontecer. Parece que o policial vai preso
Quero sugerir uma hipótese: acreditar, teoricamente, em um dos lado, sem censuras. Quero ver aonde isso nos leva. Escolho o lado da polícia-bandida-governo-mídias-tradicionais: os protestos são sempre pacíficos, mas há um grupo de mascarados infiltrados que praticam atos de vandalismo, quebrando patrimônio público e privado [essa frase, ou variações muito sutis dela, está em praticamente todos os vídeos dos telejornais da Globo sobre os protestos a que eu assisti].
Comecemos: há, então, vândalos - essa categoria estranha, amorfa. Gente que quer causar a destruição parcial ou total de algo. Gente que quer enfrentar a polícia. Mas, aqui, já, me surgem problemas - e que eu acho estranhíssimo que não surjam para ninguém mais. Eu começo a me perguntar: por quê? Por que eles querem causar a destruição? Por que eles querem enfrentar a polícia? Por quê? Ninguém se faz essas perguntas?
Vamos começar a especular, a partir do que é possível um sujeito mediano ter lido. Não é curioso que não tenha havido qualquer estrago ao Theatro Municipal, à Biblioteca Nacional, ou ao Museu Nacional de Belas Artes, que ficam, todos, ao redor da Câmara dos Vereadores, na Cinelândia, epicentro de todas as manifestações, bloco de chegada de todas as passeatas, e foco de todos os protestos? Não é curioso, no mínimo, que os quebra-quebra tenham como alvo prédios simbólicos, como a própria Câmara, ou a Assembleia dos deputados estaduais, ou ainda bancos? Na pior das hipóteses, houve saque em lojas de produtos de consumo: TVs, bolsas, telefones celulares. Mas são casos de muito menor alcance - até mesmo porque as mídias tradicionais não deram tanta atenção a isso, e seria uma ótima pedida para se falar bastante. Não quer representar alguma coisa o fato de os protestos terem começado, lá no já longínquo junho, por conta dos péssimos meios de transporte, os manifestantes mais exaltados tacarem fogo em ônibus?
O que querem, afinal, os tais black blocs? Dizer, aliás, que eles são um grupo uníssono já é errar de primeira. Dizer que eles querem a mesma coisa, idem. Dizer que eles acertam sempre - igualmente. Mas - novamente caio no mesmo problema - por que eles saem de casa, se fantasiam de vingadores mascarados, e enfrentam a polícia que é, nitidamente, mais preparada e covarde que eles? Por que se expor assim, e ainda ter a chance de ir preso? Por quê?
Novamente, vamos às especulações: querem o anarquismo. Querem uma sociedade mais justa. Querem proteger os demais manifestantes. Querem ser uma vanguarda incendiária. São sádicos.
Para todas essas questões, há formas mais inteligentes de tratar o problema - se isso for realmente um problema - do que a que foi tratada até agora. Aumentar a violência contra eles só vai fazer nascer mais black blocs. Veja o caso da repressão violenta [e corrupta] ao crime organizado, que a polícia pratica desde sempre aonde nos levou: uma sociedade ainda mais violenta.
Por que, em vez de apenas negá-los como uma espécie de câncer no tecido tão em funcionamento das manifestações, que basta ser extirpado para que tudo funcione perfeitamente, não tentar entendê-los? Não é descobrir suas reivindicações, porque talvez eles nem as tenham, mas ouvi-los. Descobrir o que os leva a sair de casa, por que eles têm tanta vontade, tanta raiva assim.
De toda forma, há, ao menos, um resultado infinitamente positivo nas atitudes desse "bando de mascarados". Agora, eles é que são o problema. Antes de junho, as manifestações eram vistas - pelos governos, mídia, enfim, o status quo - como um problema em si. Certamente avançamos.
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