segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Questão de signo

Ele é um engenheiro. Trabalha em uma empresa de telecomunicação.
Ela é jornalista, faz, por falta de pessoal, o horóscopo, além da parte da TV.
Os dois têm pouco mais de 20 anos. Recém-formados. Ele um pouco mais velho. Ela, mais bonita.

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Quando se olharam, quando as suas visões, os seus olhares, quando os os seus olhos, as miradas, se entrecruzaram pela primera vez, fez fogo, viu uma labareda cruzando o glóbulo ocular dela, subiu um arrepio pela espinha dele, que o fez balançar. Ficou sem ar e confuso. Encheu o ar de pulmões. Com sede, queria beber da saliva dela.

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Ele frequentava a igreja. Lia o horóscopo. Queria acreditar. Tinha explicação para todas as suas dúvidas. Mas as dúvidas continuavam a aparecer. Não cessavam. Arranjava outras explicações. Ela não sabia o que escrevia. Apenas escrevia. Tinha feito, no máximo, um mapa astral. Tinha gostado. Mas, de um modo curioso, até para ela mesma, ela sempre, sempre, lia o que tinha escrito. No dia seguinte, fingia algo, disfarçava, e lia, como se fosse a primeira vez que ela tinha contato com aquelas palavras. E, de certa forma ainda mais estranha, era.

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Pernas que brilham, pernas, coxas, que não são as mais grossas, são até finas, para os padrões, mas a pele brilha, como se fosse seda – essa metáfora batida, mas que funciona perfeitamente – a textura convida ao toque, os dedos querem afundar, como em uma colcha felpuda nos frios invernos da infância. Coxas que combinavam com o resto do corpo, se encaixavam perfeitamente ao quadril e aos joelhos, mostrando que o todo não sobreviveria sem suas partes.

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“Momento de balanço na sua vida. Tente não se expor muito” – dizia o seu horóscopo. Libra, ele era de libra. Ela, escorpião. O que ela queria dizer para ele? Qual era o recado que ela estava colocando no horóscopo? O que é “não se expor muito”? Será que ele estaria...

“Hora de grandes transformações em sua vida. Prepare-se para a luta” – dizia o de escorpião. Era obviamente uma mensagem. Ela não estava bem com o relacionamento.

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“Como assim, você não sabe o que escreveu?”
“Eu apenas escrevo qualquer coisa. Não fico reparando em qual signo isso vai cair. Você sabe que eu não acredito nisso...”
“Mas eu acredito!”

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Terminaram o relacionamento, que nem tinha começado direito. O que o incomodava não era ela dar recados para ele via a coluna, não era fingir que não sabia de nada, mas a exposição. Como ele iria falar que acreditava em horóscopo e desconsiderar a coluna dela, a principal coluna de horóscopo da cidade? Era muita contradição. Não conseguiu lidar com isso. E cancelou a assinatura do jornal.

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Ela pediu para mudar de seção, mas a chefe não deixou, alegando que havia recebido muitas cartas de leitores que disseram que a coluna atual era a melhor que o jornal já tinha tido. Para convencê-la, a chefe ainda sugeriu que ela assinasse a coluna. Nada de aumento, porém.

Ela pensou bem e aceitou, com a condição de que ela assinasse a coluna com um pseudônimo. E que fosse um segredo do jornal a identidade de Madame Solobugiavitch.

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