segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
sábado, 22 de dezembro de 2007
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Filme de menino
Estava esperando uma história comum de herói contra monstros medievais, feito para crianças. Mas "Beowulf", o filme do Robert Zemeckis, é impressionante na abordagem adulta de um texto escrito ainda na primeira metade da Idade Média lá para os reinos anglo-saxões e nórdicos. (Aliás, fiquei até na dúvida se deveria ser classificado como filme para crianças. Na sessão que eu fui, 3D e dublado, os meninos ficaram tão impressionados que não se ouviu nenhum pio durante toda a projeção.)
Talvez o responsável pelo amadurecimento do projeto nem seja Zemeckis, cujo último projeto - "O expresso polar" - demonstrou que ele está mais impressionado com a técnica que com outras coisas, mas os dois roteiristas: Neil Gailman e Roger Avary. Por isso, o longa não se furta de diálogos de cunho sexual, sem nenhuma vontade de disfarçar o propósito, cenas da mais pura sacanagem e muita, muita violência.
O protagonista de quase todas as cenas violentas, Beowulf, também me surpreendeu porque, além de ser um super-herói, é um sujeito que gosta de contar vantagem de si mesmo, vaidoso e preocupado com a posteridade. Ao mesmo tempo que consegue se impor, sem armas, já velho, apenas com as palavras sobre um inimigo de machado na mão e 40 anos mais novo, inflaciona o número de monstros que matou em determinado momento. Não é comum encontrar um desses na esquina.
Também não é comum encontrar cenas de ação em qualquer formato de longa ou curta-metragem. "Beowulf", o filme, resgata o sentido de herói épico que estava apagado, depois de tantos heróis dúbios, anti-heróis e heróis por acaso. O sujeito encara um monstro sem armas ou armaduras porque o adversário também assim está. Ele também corta o braço fora se, para atingir um determinado objetivo, necessário for.
Ou seja, ao mesmo tempo que se vangloria dos feitos imaginários, dá muitos motivos para as pessoas acreditarem nele. Eu, por exemplo, acredito.
Talvez o responsável pelo amadurecimento do projeto nem seja Zemeckis, cujo último projeto - "O expresso polar" - demonstrou que ele está mais impressionado com a técnica que com outras coisas, mas os dois roteiristas: Neil Gailman e Roger Avary. Por isso, o longa não se furta de diálogos de cunho sexual, sem nenhuma vontade de disfarçar o propósito, cenas da mais pura sacanagem e muita, muita violência.
O protagonista de quase todas as cenas violentas, Beowulf, também me surpreendeu porque, além de ser um super-herói, é um sujeito que gosta de contar vantagem de si mesmo, vaidoso e preocupado com a posteridade. Ao mesmo tempo que consegue se impor, sem armas, já velho, apenas com as palavras sobre um inimigo de machado na mão e 40 anos mais novo, inflaciona o número de monstros que matou em determinado momento. Não é comum encontrar um desses na esquina.
Também não é comum encontrar cenas de ação em qualquer formato de longa ou curta-metragem. "Beowulf", o filme, resgata o sentido de herói épico que estava apagado, depois de tantos heróis dúbios, anti-heróis e heróis por acaso. O sujeito encara um monstro sem armas ou armaduras porque o adversário também assim está. Ele também corta o braço fora se, para atingir um determinado objetivo, necessário for.
Ou seja, ao mesmo tempo que se vangloria dos feitos imaginários, dá muitos motivos para as pessoas acreditarem nele. Eu, por exemplo, acredito.
sábado, 15 de dezembro de 2007
Delação e tortura
Delação, tortura, interrogatórios estão na moda. Está nos jornais de hoje (ou nos sites de ontem, o que dá no mesmo). Dois filmes que ou está em cartaz ou vai entrar dia 25, tratam de assuntos completamente diversos, mas que apresentam dois momentos em que o ser humano infligiu dor a seu semelhante com fim de obter uma "confissão" ou uma "informação relevante".
"Sombras de Goya", do consagrado diretor Milos Forman fala, entre outras muitas coisas, sobre como se era tirada as confissões dos hereges pelos padres inquisidores. Pode-se concluir, com uma lógica quase infantil, que não é nada confiável uma declaração dada por um sujeito que está pendurado pelos braços, quase quebrando-os, e de cabeça para baixo.
Já no "A vida dos outros", do estreiante Florian Henckel von Donnersmarck, o cenário é a RDA, na década de 1980. O objetivo é conseguir dados sobre desertores ou sobre vazamento de informações sobre os métodos pouco ortodoxos de manter a liberdade dos seus cidadãos. A tortura é menos física, mais psicológica: deixa o sujeito 40 horas sem dormir, em um interrogatório ininterrupto. Ou prende o "traidor" em solitária por meses até que se transforme num sujeito anódino.
Na chamada Alemanha Oriental, a técnica se desenvolve a ponto de adaptar os interrogatórios de acordo com a personalidade de cada um dos "suspeitos" e com o objetivo da missão. Na Inquisição espanhola, a delicadeza é colocada de lado em nome de Deus. O acusado respondia a um processo de, por exemplo 1, judaísmo por, por exemplo 2, não gostar de carne de porco e, se fosse inocente, de acordo com o pensamento da Igreja Católica, conseguiria passar por todas as provações - leia-se torturas - ainda adorando Cristo e renegando Moisés e todos os seus outros predecessores.
Em San Giminiano, cidadela de inúmeras torres e pouquíssima população a 40 minutos de Siena, na Toscana, visitei, rapidamente, um dos três museus da tortura do vilarejo que ainda mantém as casas e todo o seu perímetro como na Idade Média. Cadeiras com lâminas, Damas de ferro, pequenas pêras para dilatar os orifícios femininos e outros diversos aparelhos me deixaram mais certo sobre ser contra qualquer tipo de tortura, seja qual for o motivo e a razão - se é que há razão.
Por mim, Los Angeles não mais existiria e nenhum terrorista teria sido torturado por Jack Bauer. Não há diferença, em essência, entre praticar um ato cruel contra um homem, quem quer que seja, e matar outro, ou outros. As ações se anulam. A maldade, na sua origem de significado, é até pior no primeiro caso.
"Sombras de Goya", do consagrado diretor Milos Forman fala, entre outras muitas coisas, sobre como se era tirada as confissões dos hereges pelos padres inquisidores. Pode-se concluir, com uma lógica quase infantil, que não é nada confiável uma declaração dada por um sujeito que está pendurado pelos braços, quase quebrando-os, e de cabeça para baixo.
Já no "A vida dos outros", do estreiante Florian Henckel von Donnersmarck, o cenário é a RDA, na década de 1980. O objetivo é conseguir dados sobre desertores ou sobre vazamento de informações sobre os métodos pouco ortodoxos de manter a liberdade dos seus cidadãos. A tortura é menos física, mais psicológica: deixa o sujeito 40 horas sem dormir, em um interrogatório ininterrupto. Ou prende o "traidor" em solitária por meses até que se transforme num sujeito anódino.
Na chamada Alemanha Oriental, a técnica se desenvolve a ponto de adaptar os interrogatórios de acordo com a personalidade de cada um dos "suspeitos" e com o objetivo da missão. Na Inquisição espanhola, a delicadeza é colocada de lado em nome de Deus. O acusado respondia a um processo de, por exemplo 1, judaísmo por, por exemplo 2, não gostar de carne de porco e, se fosse inocente, de acordo com o pensamento da Igreja Católica, conseguiria passar por todas as provações - leia-se torturas - ainda adorando Cristo e renegando Moisés e todos os seus outros predecessores.
Em San Giminiano, cidadela de inúmeras torres e pouquíssima população a 40 minutos de Siena, na Toscana, visitei, rapidamente, um dos três museus da tortura do vilarejo que ainda mantém as casas e todo o seu perímetro como na Idade Média. Cadeiras com lâminas, Damas de ferro, pequenas pêras para dilatar os orifícios femininos e outros diversos aparelhos me deixaram mais certo sobre ser contra qualquer tipo de tortura, seja qual for o motivo e a razão - se é que há razão.
Por mim, Los Angeles não mais existiria e nenhum terrorista teria sido torturado por Jack Bauer. Não há diferença, em essência, entre praticar um ato cruel contra um homem, quem quer que seja, e matar outro, ou outros. As ações se anulam. A maldade, na sua origem de significado, é até pior no primeiro caso.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Cinebiografias
A grosso modo, as cinebiografias musicais recentes podem ser divididas em duas grandes vertentes: 1/ as que mostram um sujeito comum, pobre, que chega ao estrelato e, junto com ele, às drogas. Após muito sofrer, ranger-de-dentes e, normalmente, a família ou amigos em quem se apoiar, consegue retornar à carreira até um fim heróico. Ex.: "Ray", "Johnhy e June" e até, de certa forma, forçando um pouco a barra,"Piaf".
Já há outras [2/] em que mostra o desaparecimento do jovem talento, ou por causa do excesso de drogas - sempre elas -, por doença, ou por vontade própria: o suicídio. "The Doors", "Cazuza" e o recente "Control", sobre Ian Curtis, do Joy Division, fazem parte desse segundo grupo.
Curtis encarna, até hoje, um ideal romântico do sujeito perturbado que não agüentou o sucesso repentino e resolveu acabar com a vida. Atitude esta que refletiu em decisões mais ou menos fatais, de Kurt Cobain a Renato Russo.
Mas o filme não mostra apenas um frontman introspectivo, caladão e esquisito que alguns diálogos até podem apontar como verdadeiro. Pelo contrário. Por exemplo: Curtis trabalha, antes da banda, numa agência de empregos; é prestativo, comunicativo e até bem humorado. Ou seja, o sujeito que deixou uma legião de imitadores, seja no dançar (o próprio Russo), seja no estilo musical (Interpol e Editors, para ficar nos exemplos mais recentes e conhecidos), também pode ser retratado fora dos clichês do cara deprimido com epilepsia que resolveu acabar com a vida porque não aguentava mais o mundo cruel.
Mas a escolha do diretor Anton Corbijn, conhecidíssimo fotógrafo que já assinou clipes de U2, Depeche Mode e até Nirvana ("Heart Shaped Box") e capas de discos do próprio Joy Division entre outros, foi se apoiar na biografia da mulher de Curtis, Deborah, que gira em torno de um triângulo amoroso. Sabemos mais da vida do sujeito entre quatro paredes que em cima dos palcos e nos bastidores.
Ao fim, Curtis se mata "simplesmente" porque 1) brigou com a mulher, 2) estava bêbado, 3) queria sair da banda e 4) era epilético. Não vemos, ou pelo menos não vi, a transformação da vida boa numa ruim. Não sei, pareceu pouco, para mim - mas, também, quem sou eu para saber dos motivos que valem a pena se matar...?
O filme vale, acima de tudo, pela fotografia de Corbijn, um sujeito que criou uma estética de videoclipe muito copiada brincando com o preto, branco e penumbras, além de silhuetas em sombra. Tudo muito bem feito.
E também por rever personagens esboçados ou espalhados em "24 hour party people". Tony Wilson, por exemplo, está de volta.
Ao terminar, percebi que a última grande cinebiografia musical que foge um pouco do lugar comum que vi, recentemente, é, vejam só, "2 Filhos de Francisco". Além, é claro, de "Last Days", do Gus Van Sant.
Já há outras [2/] em que mostra o desaparecimento do jovem talento, ou por causa do excesso de drogas - sempre elas -, por doença, ou por vontade própria: o suicídio. "The Doors", "Cazuza" e o recente "Control", sobre Ian Curtis, do Joy Division, fazem parte desse segundo grupo.
Curtis encarna, até hoje, um ideal romântico do sujeito perturbado que não agüentou o sucesso repentino e resolveu acabar com a vida. Atitude esta que refletiu em decisões mais ou menos fatais, de Kurt Cobain a Renato Russo.
Mas o filme não mostra apenas um frontman introspectivo, caladão e esquisito que alguns diálogos até podem apontar como verdadeiro. Pelo contrário. Por exemplo: Curtis trabalha, antes da banda, numa agência de empregos; é prestativo, comunicativo e até bem humorado. Ou seja, o sujeito que deixou uma legião de imitadores, seja no dançar (o próprio Russo), seja no estilo musical (Interpol e Editors, para ficar nos exemplos mais recentes e conhecidos), também pode ser retratado fora dos clichês do cara deprimido com epilepsia que resolveu acabar com a vida porque não aguentava mais o mundo cruel.
Mas a escolha do diretor Anton Corbijn, conhecidíssimo fotógrafo que já assinou clipes de U2, Depeche Mode e até Nirvana ("Heart Shaped Box") e capas de discos do próprio Joy Division entre outros, foi se apoiar na biografia da mulher de Curtis, Deborah, que gira em torno de um triângulo amoroso. Sabemos mais da vida do sujeito entre quatro paredes que em cima dos palcos e nos bastidores.
Ao fim, Curtis se mata "simplesmente" porque 1) brigou com a mulher, 2) estava bêbado, 3) queria sair da banda e 4) era epilético. Não vemos, ou pelo menos não vi, a transformação da vida boa numa ruim. Não sei, pareceu pouco, para mim - mas, também, quem sou eu para saber dos motivos que valem a pena se matar...?
***
O filme vale, acima de tudo, pela fotografia de Corbijn, um sujeito que criou uma estética de videoclipe muito copiada brincando com o preto, branco e penumbras, além de silhuetas em sombra. Tudo muito bem feito.
E também por rever personagens esboçados ou espalhados em "24 hour party people". Tony Wilson, por exemplo, está de volta.
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Ao terminar, percebi que a última grande cinebiografia musical que foge um pouco do lugar comum que vi, recentemente, é, vejam só, "2 Filhos de Francisco". Além, é claro, de "Last Days", do Gus Van Sant.
domingo, 9 de dezembro de 2007
Por que eu fui ao show?
Infelizmente um show de grandes proporções, com 70, 80 mil pessoas, não é julgado apenas pela apresentação em cima do palco. Pelo contrário, em considerando que, muitas vezes, é quase impossível enxergar os músicos dedilhando seus instrumentos, o restante - conforto, segurança, organização - é o que mais conta.
Por isso é possível dizer: o show do Police foi o pior que eu já presenciei em toda a minha vida. Sting, Copeland e Summers até se esforçaram, enfileirando sucessos um atrás do outro para que ninguém desse a desculpa de que estaria desenturmado. The issue was off-stage.
Para começar, a fila de entrada. Qualquer jogo do Flamengo leva mais gente que o show de ontem. Mas é improvável que algo seja tão mal feita como aquela fina de entrada - ou seja, inexperiência não é exatamente uma boa desculpa. Uma multidão era espremida num portão comparativo pequeno e andava dentro de um curralzinho na tentativa de chegar às catracas, que merecem um capítulo a parte.
Antes de apresentar os ingressos, todos do gramado passamos por detectores de metal desligados e nenhuma revista. A falta de precaução resultou no óbvio: um dos pouquíssimos bares do gramado foi assaltado a mão armada. Isso mesmo, um sujeito entrou com um arma e assaltou os caras que vendiam cerveja, que, aliás, também precisam de um parágrafo só para eles.
A confusão era tão grande, era tão difícil comprar uma água mineral que vimos um camelô vendendo copinhos tirados diretamente da caixa por R$ 4. Os bares só deveriam aceitar uma ficha comprada num único caixa - para todo o público do gramado. Como isso não estava funcionando, eles abriram a exceção e começaram a aceitar dinheiro. O resultado já é conhecido.
A insegurança era tanta que, em certo momento, houve uma briga em um grupo que demorou uns cinco minutos para ser contida por pessoas da platéia. Até agora, ninguém do "controle de acesso" chegou lá para conferir a questão.
Isso sem contar com o telão que não funcionou na primeira música, dando uma sensação de "por que mesmo eu paguei uma grana para vir para cá?" Ou como dizem: "Cadê o meu cocar?"
Amigos que estavam em outras dependências disseram que o show foi tranqüilo, dentro do que pode ser um evento que reúna mais de 70 mil pessoas.
Para coroar, um camarada meu, na saída do Maracanã, viu um acidente bizarro: um sujeito caiu de um passarela de acesso ao estádio em cima de uma menina. O cara conseguiu se levantar logo em seguida. A menina, não.
Por isso é possível dizer: o show do Police foi o pior que eu já presenciei em toda a minha vida. Sting, Copeland e Summers até se esforçaram, enfileirando sucessos um atrás do outro para que ninguém desse a desculpa de que estaria desenturmado. The issue was off-stage.
Para começar, a fila de entrada. Qualquer jogo do Flamengo leva mais gente que o show de ontem. Mas é improvável que algo seja tão mal feita como aquela fina de entrada - ou seja, inexperiência não é exatamente uma boa desculpa. Uma multidão era espremida num portão comparativo pequeno e andava dentro de um curralzinho na tentativa de chegar às catracas, que merecem um capítulo a parte.
Antes de apresentar os ingressos, todos do gramado passamos por detectores de metal desligados e nenhuma revista. A falta de precaução resultou no óbvio: um dos pouquíssimos bares do gramado foi assaltado a mão armada. Isso mesmo, um sujeito entrou com um arma e assaltou os caras que vendiam cerveja, que, aliás, também precisam de um parágrafo só para eles.
A confusão era tão grande, era tão difícil comprar uma água mineral que vimos um camelô vendendo copinhos tirados diretamente da caixa por R$ 4. Os bares só deveriam aceitar uma ficha comprada num único caixa - para todo o público do gramado. Como isso não estava funcionando, eles abriram a exceção e começaram a aceitar dinheiro. O resultado já é conhecido.
A insegurança era tanta que, em certo momento, houve uma briga em um grupo que demorou uns cinco minutos para ser contida por pessoas da platéia. Até agora, ninguém do "controle de acesso" chegou lá para conferir a questão.
Isso sem contar com o telão que não funcionou na primeira música, dando uma sensação de "por que mesmo eu paguei uma grana para vir para cá?" Ou como dizem: "Cadê o meu cocar?"
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Amigos que estavam em outras dependências disseram que o show foi tranqüilo, dentro do que pode ser um evento que reúna mais de 70 mil pessoas.
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Para coroar, um camarada meu, na saída do Maracanã, viu um acidente bizarro: um sujeito caiu de um passarela de acesso ao estádio em cima de uma menina. O cara conseguiu se levantar logo em seguida. A menina, não.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Circunstância e existência
1) Como vimos, a Europa é dividida ao meio, com duas filosofias de vida antagônicas. A parte de cima, organizada, a de baixo, uma bagunça. No meio, a França que faz a ponte entre os extremos. Para compensar (ou não) as fraquezas sulistas, os latinos podem se gabar de conseguir expressar a diferença entre a circunstância (estar/stare) e a existência (ser/essere). Nos nortistas, é a mesma expressão (to be / Sein, para dar os dois exemplos a mão) - pelo menos no inglês e no alemão...
Serviria para ser o orgulho nacional, como "saudade" para os lusófonos, se, o alemão, por exemplo, não tivesse outras quatro expressões para o mesmo sentimento: Heimweh, Verlangen, Sehnen, Sehnsucht. Ou seja, eu é que não conheço os idiomas nórdicos.
2) Já sobre o problema de ser ético, Borges (sempre ele), tem um conto em que narra como a ética pode pesar negativamente em uma decisão. Ele distorce por completo o conceito, transformando-o numa interpretação unilateral, que pode ser facilmente adotada pelos mais míopes.
Num esquema rápido, o conto narra a escolha, por parte de um professor catedrático de uma universidade americana, protestante e extremamente ético, de um mestre para o instituto. Dois sujeitos concorrem, (a) que ele nutre certa afinidade e (b) que ele detesta.
(b), então, escreve artigos furibundos contra os trabalhos do catedrático. O professor, claramente, escolhe (b), mesmo não sendo o seu preferido, apenas para mostrar que separava o seu julgamento técnico do pessoal. (b) explica, depois, que escreveu os artigos unica e exclusivamente para manipular o professor, sabendo de sua ética implacável.
3) Deve haver, e nós é que não descobrimos, uma vantagem dos latinos desorganizados sobre os nórdicos metódicos. Talvez seja essa leveza de levar a vida. Ou sentimentos ainda mais intangíveis.
Talvez eu preferisse o tátil...
Serviria para ser o orgulho nacional, como "saudade" para os lusófonos, se, o alemão, por exemplo, não tivesse outras quatro expressões para o mesmo sentimento: Heimweh, Verlangen, Sehnen, Sehnsucht. Ou seja, eu é que não conheço os idiomas nórdicos.
2) Já sobre o problema de ser ético, Borges (sempre ele), tem um conto em que narra como a ética pode pesar negativamente em uma decisão. Ele distorce por completo o conceito, transformando-o numa interpretação unilateral, que pode ser facilmente adotada pelos mais míopes.
Num esquema rápido, o conto narra a escolha, por parte de um professor catedrático de uma universidade americana, protestante e extremamente ético, de um mestre para o instituto. Dois sujeitos concorrem, (a) que ele nutre certa afinidade e (b) que ele detesta.
(b), então, escreve artigos furibundos contra os trabalhos do catedrático. O professor, claramente, escolhe (b), mesmo não sendo o seu preferido, apenas para mostrar que separava o seu julgamento técnico do pessoal. (b) explica, depois, que escreveu os artigos unica e exclusivamente para manipular o professor, sabendo de sua ética implacável.
3) Deve haver, e nós é que não descobrimos, uma vantagem dos latinos desorganizados sobre os nórdicos metódicos. Talvez seja essa leveza de levar a vida. Ou sentimentos ainda mais intangíveis.
Talvez eu preferisse o tátil...
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
Melhores do ano
Listas só são unânimes em relação às polêmicas suscitadas. A conclusão já é até lugar-comum. Entretanto, vendo pelo lado produtivo, imagino que servem para lembrar das músicas que devemos dar mais (ou menos) atenção. Exemplo é do disco novo da PJ Harvey que eu tinha ignorado, mas que já fiz o devido favor (a mim mesmo) e, eh, o adquiri. Ainda não o escutei direito, mas farei.
Aliás, essa é a segunda tese levantada. Com a quantidade imensa de informação, cada vez menos damos um segunda chance para uma música ou banda. Somente funciona quando um grupo tem um passado inteiro de crédito para gastar. Consumimos as suas economias em uma, duas audições. Apenas no caso do Radiohead e o seu "In Rainbows" me permiti uma terceira audição. E aí pegou.
O quinteto inglês sofre, coitados, de uma síndrome horrível: a de ter que passar pela seqüência de abertura que começou com o "Pablo Honey" (e "Creep") e passou por "The Bends" (e "Fake Plastic Trees"), por "OK Computer" (precisa dizer alguma coisa?) até a dobradinha "Kid A"+ "Amnesiac". Raramente uma banda consegue esse crescendo. Mais difícil ainda é um grupo desses se superar, quiçá se manter o padrão.
O posterior (de estúdio) "Hail to the Thief" tem momentos mágicos, como "Punch up of the weeding" e "There there", mas é um álbum "apenas" bom. Pouco para o nível acostumadamente exigente de nós, os ouvintes.
Já "In rainbows" é mais um álbum, digamos, tradicional. Ou seja, paira sobre a mesmice. Além disso, é roquenrol à Radiohead, claro. Isso quer dizer que conseguimos ouvir a bateria, por exemplo, em quase todas as faixas.
O dito-cujo tem uma seleção de fazer inveja a qualquer macaqueador recente dos trejeitos de mr. Yorke e cia. Só para citar algumas faixas: "BodySnatchers" com o seu impressionante final à "Do the evolution", do Pearl Jam; "All I need", que parece uma música comum, quase banal, quando começa a crescer com o pianinho safado até o final e a explosão; e, para ficar em poucos exemplos, a música do disco até agora: "Faust Arp".
Não se transformou no disco do ano, não porque é ruim. Mas porque a concorrência de Arcade Fire e seu "Neon Bible" e Beastie Boys e o seu "suco de tangerina" não deixou.
Aliás, essa é a segunda tese levantada. Com a quantidade imensa de informação, cada vez menos damos um segunda chance para uma música ou banda. Somente funciona quando um grupo tem um passado inteiro de crédito para gastar. Consumimos as suas economias em uma, duas audições. Apenas no caso do Radiohead e o seu "In Rainbows" me permiti uma terceira audição. E aí pegou.
O quinteto inglês sofre, coitados, de uma síndrome horrível: a de ter que passar pela seqüência de abertura que começou com o "Pablo Honey" (e "Creep") e passou por "The Bends" (e "Fake Plastic Trees"), por "OK Computer" (precisa dizer alguma coisa?) até a dobradinha "Kid A"+ "Amnesiac". Raramente uma banda consegue esse crescendo. Mais difícil ainda é um grupo desses se superar, quiçá se manter o padrão.
O posterior (de estúdio) "Hail to the Thief" tem momentos mágicos, como "Punch up of the weeding" e "There there", mas é um álbum "apenas" bom. Pouco para o nível acostumadamente exigente de nós, os ouvintes.
Já "In rainbows" é mais um álbum, digamos, tradicional. Ou seja, paira sobre a mesmice. Além disso, é roquenrol à Radiohead, claro. Isso quer dizer que conseguimos ouvir a bateria, por exemplo, em quase todas as faixas.
O dito-cujo tem uma seleção de fazer inveja a qualquer macaqueador recente dos trejeitos de mr. Yorke e cia. Só para citar algumas faixas: "BodySnatchers" com o seu impressionante final à "Do the evolution", do Pearl Jam; "All I need", que parece uma música comum, quase banal, quando começa a crescer com o pianinho safado até o final e a explosão; e, para ficar em poucos exemplos, a música do disco até agora: "Faust Arp".
Não se transformou no disco do ano, não porque é ruim. Mas porque a concorrência de Arcade Fire e seu "Neon Bible" e Beastie Boys e o seu "suco de tangerina" não deixou.
domingo, 2 de dezembro de 2007
Porque vou
Vai ser cheio, a turnê é caça-níqueis, vamos apenas ouvir, de longe, três caras que mal conversam no palco, quiçá fora dele, estragando o gramado do Maracanã. Além disso, experiências com bandas reunidas (Pixies), em eventos superlotados (Pearl Jam) e no Maracanã (Rush) não me trazem exatamente boas lembranças, sempre. Por que, então, vou ao Police na semana que vem?
A resposta simplista diria que gosto de shows e Police já foi uma banda que eu escutei muito, principalmente quando não era eu que escolhia a música, ou seja, antes dos meus 10, 11 anos. Ou seja 2, as músicas estão circulando dentro das minhas veias, junto com os glóbulos brancos, vermelhos e as plaquetas. Não é uma das minhas bandas preferidas, e até acho que o som ficou datada.
Mas este é o preço de 1) ser razoavelmente novo e ter uma cultura musical pequena, mas suficiente para se lembrar quem e o que é o Police; e 2) viver num país periférico, onde é difícil ter opções musicais com certa freqüência. Assim, pagamos, e caro, para ver o trio. Que, pelo menos, troquem bengaladas ao vivo.
A resposta simplista diria que gosto de shows e Police já foi uma banda que eu escutei muito, principalmente quando não era eu que escolhia a música, ou seja, antes dos meus 10, 11 anos. Ou seja 2, as músicas estão circulando dentro das minhas veias, junto com os glóbulos brancos, vermelhos e as plaquetas. Não é uma das minhas bandas preferidas, e até acho que o som ficou datada.
Mas este é o preço de 1) ser razoavelmente novo e ter uma cultura musical pequena, mas suficiente para se lembrar quem e o que é o Police; e 2) viver num país periférico, onde é difícil ter opções musicais com certa freqüência. Assim, pagamos, e caro, para ver o trio. Que, pelo menos, troquem bengaladas ao vivo.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Norte e sul
Norte e sul, protestante e católico, anglo-saxões e latinos. A Europa Ocidental, como já bem disse Webber, é dividida em duas. É fácil, para qualquer um, fazer uma listagem de países parecidos. De um lado: Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Alemanha, Grã-Bretanha. Do outro, Itália, Espanha, Portugal.
Sentiu falta de um determinado país? Poisé. França. O meio-termo, que fica entre os dois extremos. Ou, melhor, é a ligação entre os dois mundos.
Ou não?
Sentiu falta de um determinado país? Poisé. França. O meio-termo, que fica entre os dois extremos. Ou, melhor, é a ligação entre os dois mundos.
Ou não?
Roubado
Este blog não é sobre futebol, eu não gosto tanto assim do esporte, não sou vascaíno (por favor, sou tricolor!) e só quero que o Corinthians caia por implicância boba contra São Paulo, o estado, e o seu sotaque. Dito isto, posso dizer com a maior segurança que é um ABSURDO (com caixa alta) ninguém (fora o Calazans e o RJ TV, que eu tenha visto) ter falado / reclamado sobre o caso do gandula que arremessou a bola dentro do campo num contra-ataque vascaíno.
Senti que estava - e estou - sendo aviltado. E olha que, como dito acima, não tinha nada a ver com isso. Para quem não viu, porque realmente a cena não foi tão mostrada, aconteceu da seguinte forma:
O goleiro do Corinthians - cujo nome suspeito ser Felipe, mas que não vale nem a procura na internet - decidiu salvar o time. Subiu ao ataque num lance de bola parada e, assim, tentar o cabeceio. Até aí, jogo jogada. O sujeito está correndo o risco que assumiu.
Ao Corinthians perder a bola, o Vasco conseguiu um contra-ataque rápido. Ao passar do meio de campo, o atacante - também não sei quem foi, nem em que posição jogava - se preparou para chutar ao gol desguarnecido. Foi então que o gandula - não me importa MESMO quem é - jogou no campo a bola que ele segurava para a reposição rápida. Com duas bolas, o árbitro teve que suspender a partida.
Ou seja, um sujeito que, provavelmente torcia para o Corinthians, usou das regras para benefício próprio, ou, em outras palavras, ROUBOU descaradamente e o próprio Corinthians saiu com a melhor. (Quase) ninguém falou nada e o time ainda está sendo vendido como o coitadinho da vez, no jornais e telejornais da vida.
Senti que estava - e estou - sendo aviltado. E olha que, como dito acima, não tinha nada a ver com isso. Para quem não viu, porque realmente a cena não foi tão mostrada, aconteceu da seguinte forma:
O goleiro do Corinthians - cujo nome suspeito ser Felipe, mas que não vale nem a procura na internet - decidiu salvar o time. Subiu ao ataque num lance de bola parada e, assim, tentar o cabeceio. Até aí, jogo jogada. O sujeito está correndo o risco que assumiu.
Ao Corinthians perder a bola, o Vasco conseguiu um contra-ataque rápido. Ao passar do meio de campo, o atacante - também não sei quem foi, nem em que posição jogava - se preparou para chutar ao gol desguarnecido. Foi então que o gandula - não me importa MESMO quem é - jogou no campo a bola que ele segurava para a reposição rápida. Com duas bolas, o árbitro teve que suspender a partida.
Ou seja, um sujeito que, provavelmente torcia para o Corinthians, usou das regras para benefício próprio, ou, em outras palavras, ROUBOU descaradamente e o próprio Corinthians saiu com a melhor. (Quase) ninguém falou nada e o time ainda está sendo vendido como o coitadinho da vez, no jornais e telejornais da vida.
Duvido que o Corinthians caia. Principalmente porque nem está na zona de rebaixamento. Mas, se cair, não vai ser a primeira vez. Ele já esteve na segundona em outras épocas e isso não modificou em nada o entusiasmo da torcida, nem a grandeza do time. Duvido também que aquele gol modificasse o rumo da partida, que já estava ganha pelo Vasco, quiçá do campeonato. Mas o ABSURDO de premiar o errado e (quase) ninguém reclamar me fez ficar infurecido.
É triste, muito triste constatar que a popularidade - e audiência - valem mais que a ética e a verdade.
É triste, muito triste constatar que a popularidade - e audiência - valem mais que a ética e a verdade.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
A viúva
Quieta num canto, sozinha e com ar triste. Assinava uns livros do marido, morto há mais de 20 anos. Cabelos milimetricamente pintados de pretos na parte externa e deixados brancos na parte interna. A única detentora dos direitos do escritor considerado o maior da língua espanhola e um dos maiores do mundo no século xx.
Cheguei atrasado para a palestra de María Kodama, a ex-secretária, ex-faz-tudo do Borges que se tornou, em meio a bastante polêmica e em uma cerimônia paraguaia, literalmente, sua mulher. A primeira coisa que quis foi observá-la, perceber quem ela era, a partir de sua fisionomia e atitudes. Quem é essa mulher e por que ela é tão detestada pelos mais antigos amigos e familiares de Georgie.
Esperava algo mágico, talvez borgeano, que, apenas ao vê-la, decodificasse toda a esfinge, sem deixá-la me devorar. Entretanto, acanhei-me. Ela estava tão desprotegida, sendo ignorada por tanta gente, que imaginei que deveria guardar meus ovos podres metafóricos e agir como um simples transeunte dentro de uma livraria.
Não sei quem ela é, foi, ou representou para Borges. E nunca saberei, nem saberemos. Isso, entretanto, é de uma irrelevância atroz. Ela é desimportante para entender o argentino e, se ganha dinheiro, ou não, com a obra do escritor, também não modificará a maneira como se o vê. Apenas alimenta a faminta indústria da fofoca.
ps1. Importantes e graves, porém, são as mudanças que a Cia. da Letras fez na nova edição do "Livro dos Seres Imaginários". Na versão da antiga detentora dos direitos no Brasil, a Editora Globo, Borges divide a autoria do livro com Margarita Guerrero, e explicam que a colaboração da ex-bailarina, com o seu conhecimento de várias línguas e experiência internacional, foi essencial para a feitura da obra. Na da Cia. das Letras, simplesmente limam Guerrero da capa e colocam-na para uma página interna dizendo simplesmente que "colaborou".
Se não bastasse, retiraram também um prefácio da obra, assinado por Sylvia Molloy. E, ainda por cima, a versão das Letras é mais cara. E dizem que Kodama SÓ é ciumenta...
ps2. É mera coincidência que duas viúvas de origem japonesa sejam odiadas pelos seguidores dos respectivos maridos mortos na década de 80: além de Borges e Kodama, Lennon e Yoko Ono.
Cheguei atrasado para a palestra de María Kodama, a ex-secretária, ex-faz-tudo do Borges que se tornou, em meio a bastante polêmica e em uma cerimônia paraguaia, literalmente, sua mulher. A primeira coisa que quis foi observá-la, perceber quem ela era, a partir de sua fisionomia e atitudes. Quem é essa mulher e por que ela é tão detestada pelos mais antigos amigos e familiares de Georgie.
Esperava algo mágico, talvez borgeano, que, apenas ao vê-la, decodificasse toda a esfinge, sem deixá-la me devorar. Entretanto, acanhei-me. Ela estava tão desprotegida, sendo ignorada por tanta gente, que imaginei que deveria guardar meus ovos podres metafóricos e agir como um simples transeunte dentro de uma livraria.
Não sei quem ela é, foi, ou representou para Borges. E nunca saberei, nem saberemos. Isso, entretanto, é de uma irrelevância atroz. Ela é desimportante para entender o argentino e, se ganha dinheiro, ou não, com a obra do escritor, também não modificará a maneira como se o vê. Apenas alimenta a faminta indústria da fofoca.
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ps1. Importantes e graves, porém, são as mudanças que a Cia. da Letras fez na nova edição do "Livro dos Seres Imaginários". Na versão da antiga detentora dos direitos no Brasil, a Editora Globo, Borges divide a autoria do livro com Margarita Guerrero, e explicam que a colaboração da ex-bailarina, com o seu conhecimento de várias línguas e experiência internacional, foi essencial para a feitura da obra. Na da Cia. das Letras, simplesmente limam Guerrero da capa e colocam-na para uma página interna dizendo simplesmente que "colaborou".
Se não bastasse, retiraram também um prefácio da obra, assinado por Sylvia Molloy. E, ainda por cima, a versão das Letras é mais cara. E dizem que Kodama SÓ é ciumenta...
ps2. É mera coincidência que duas viúvas de origem japonesa sejam odiadas pelos seguidores dos respectivos maridos mortos na década de 80: além de Borges e Kodama, Lennon e Yoko Ono.
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Transtornos
A minha ruinha, coitada, é sem saída, mas limpinha. Fica na esquina da Pasteur, onde os muitos carros que vêm de Copacabana, do Rio Sul ou dessa parte da Zona Sul mais rica em direção ao Centro via Aterro do Flamengo desembocam. Então, o barulho de motor é alto, incômodo e constante. Não me surpreende que eu não goste de fórmula um.
Anexe à informação do parágrafo anterior que a CEG está quebrando o asfalto com aquela britadeira, ícone das cidades que se consideram grandes, para fazer uma obra de "emergência". Também armazene que a Fundação Parques e Jardins resolveu podar as árvores justamente neste período - ou seja, a ruinha (Bartolomeu Portela) ficou praticamente intransitável.
Mas o Oscar da ingestão, da falta de organização e respeito para com o próximo foi dado para o Teatro (ex-cinema, ex-bingo) Veneza. Além de roubar uma área correspondente a cinco carros para os táxis na minha rua, eles colocam cones impedindo que estacionem em frente ao estabelecimento - para ser um área de "carga e descarga" de vans de velhinhas.
Não satisfeitos, eles "autorizam" (não sei com que autoridade) que os táxis parem em fila dupla na rua, para os "sem vans". A rua, que já é difícil entrar, fica quase impraticável.
Ontem, entretanto, a sem-noçãozice e o caguei-um-balde-para-você-zice atingiu mares nunca dantes navegados. Além da fila dupla, havia uma terceira fila! Um taxista parou, com o auxílio do segurança do ex-cinema-e-bingo, que pedia calma, no meio da rua para receber duas velhinhas que pareciam não se importar com o transtorno e levá-las para o seu "Cocoon" natal.
Por isso, quando desejo que mais esse empreendimento feche, não estou desejando o mal a outrem, mas o bem a mim mesmo. Sugiro, no local, um supermecado.
ps. Ainda bem que eu já consegui o número de emergência da Guarda Municipal (0800-21-1532). Não é nada, não é nada... não é quase nada mesmo.
Anexe à informação do parágrafo anterior que a CEG está quebrando o asfalto com aquela britadeira, ícone das cidades que se consideram grandes, para fazer uma obra de "emergência". Também armazene que a Fundação Parques e Jardins resolveu podar as árvores justamente neste período - ou seja, a ruinha (Bartolomeu Portela) ficou praticamente intransitável.
Mas o Oscar da ingestão, da falta de organização e respeito para com o próximo foi dado para o Teatro (ex-cinema, ex-bingo) Veneza. Além de roubar uma área correspondente a cinco carros para os táxis na minha rua, eles colocam cones impedindo que estacionem em frente ao estabelecimento - para ser um área de "carga e descarga" de vans de velhinhas.
Não satisfeitos, eles "autorizam" (não sei com que autoridade) que os táxis parem em fila dupla na rua, para os "sem vans". A rua, que já é difícil entrar, fica quase impraticável.
Ontem, entretanto, a sem-noçãozice e o caguei-um-balde-para-você-zice atingiu mares nunca dantes navegados. Além da fila dupla, havia uma terceira fila! Um taxista parou, com o auxílio do segurança do ex-cinema-e-bingo, que pedia calma, no meio da rua para receber duas velhinhas que pareciam não se importar com o transtorno e levá-las para o seu "Cocoon" natal.
Por isso, quando desejo que mais esse empreendimento feche, não estou desejando o mal a outrem, mas o bem a mim mesmo. Sugiro, no local, um supermecado.
ps. Ainda bem que eu já consegui o número de emergência da Guarda Municipal (0800-21-1532). Não é nada, não é nada... não é quase nada mesmo.
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Urgências, obrigações e escolhas: a escrita
E quando você deve fazer algo, obrigatório, mas não urgente, em casa e não tem muito saco? E, então, qualquer assunto se torna mais interessante (aliás, ótima tática, se manipulada, para fazer coisas chatas: arranje algo ainda mais chato). Como, por exemplo, escrever sobre o nada, durante um tantinho de tempo, o suficiente para que não haja mais... tempo para fazer nada e, então, o projeto fica adiado, por algumas horas ou até mesmo dias.
Se não é urgente, deixemos que ele se torne. A empolgação é proporcional ao nível de adrenalina injetada no sangue pelas suas glândulas. O marasmo empurra, com a barriga, as obrigações para o dia seguinte. Vide dois posts abaixo, que nem abordava uma obrigação. Aliás, as obrigações, já que repeti a palavra duas ou três vezes neste parágrafo, são totalmente escolhidas. Quem foi mesmo que disse que é impossível não escolher? (Lembro apenas do "é impossível não se comunicar"). Levando ao máximo, até a não-escolha é uma escolha.
É divertido escrever sem destino. Nada de beatnik, por favor, que eu tomo banho todos os dias. Mas algo que você começa com uma frase que vai dando cria, se alimentando e se proliferando, como um exercício físico apenas com os dedos. Crescei-vos e multiplicai-vos, Alguém disse. Até um fim inesperado. Assim: fim.
Se não é urgente, deixemos que ele se torne. A empolgação é proporcional ao nível de adrenalina injetada no sangue pelas suas glândulas. O marasmo empurra, com a barriga, as obrigações para o dia seguinte. Vide dois posts abaixo, que nem abordava uma obrigação. Aliás, as obrigações, já que repeti a palavra duas ou três vezes neste parágrafo, são totalmente escolhidas. Quem foi mesmo que disse que é impossível não escolher? (Lembro apenas do "é impossível não se comunicar"). Levando ao máximo, até a não-escolha é uma escolha.
É divertido escrever sem destino. Nada de beatnik, por favor, que eu tomo banho todos os dias. Mas algo que você começa com uma frase que vai dando cria, se alimentando e se proliferando, como um exercício físico apenas com os dedos. Crescei-vos e multiplicai-vos, Alguém disse. Até um fim inesperado. Assim: fim.
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
A rainha de volta
O Queen está na moda. Além da propaganda da Pajero, em que tribos tentam imitar o tum-tum-tá, do "We will rock you", e da publicidade da Claro que toca incessantemente "A kind of magic", a Som Livre, que não é exatamente boba, já fez a sua coletânea (não achei o link agora).
Bem, isso não é uma opinião, já é um fato.
Bem, isso não é uma opinião, já é um fato.
domingo, 25 de novembro de 2007
Não deixe para amanhã...
Em vez de guardar uma idéia para amanhã, para poder escrever com mais freqüência, estou me propondo a escrever sempre que uma luz for acesa no departamento de datilografia. Com isso, corro mais risco de ficar sem assunto no dia seguinte. Ou não, porque tenho uma teoria, ou melhor, acredito que, quanto mais se escreva, mais motivos aparecem com cara de valer um textinho curto.
Ou, se ficar realmente um branco com um cursor piscando, vou dar uma caminhada, cozinhar ou simplesmente tomar banho - ótimas oportunidades para a mente se atulhar de coisas inúteis que podem render um post. (A outra boa tática é tentar dormir, porque um pouco antes de cair no sono, minha cabeça, já misturando o consciente com o sub e o in, produz situações louváveis. O problema é, bem, dormir e perder a hora do trabalho, por exemplo.)
Aliás, o que é isso, mesmo: o que "rende" um post? Basicamente, qualquer coisa. Não há regra alguma sobre a ética de blogs - esses veículos em voga há muito. Cada um desenvolve os seus direitos e deveres e os meus são tão genéricos quanto o subtítulo desta página, ali em cima. Vale até, para se ter uma noção, um texto, como este, sobre a não-poupança e o imediatismo das idéias. Idéia esta tida ontem, claro.
Ou, se ficar realmente um branco com um cursor piscando, vou dar uma caminhada, cozinhar ou simplesmente tomar banho - ótimas oportunidades para a mente se atulhar de coisas inúteis que podem render um post. (A outra boa tática é tentar dormir, porque um pouco antes de cair no sono, minha cabeça, já misturando o consciente com o sub e o in, produz situações louváveis. O problema é, bem, dormir e perder a hora do trabalho, por exemplo.)
Aliás, o que é isso, mesmo: o que "rende" um post? Basicamente, qualquer coisa. Não há regra alguma sobre a ética de blogs - esses veículos em voga há muito. Cada um desenvolve os seus direitos e deveres e os meus são tão genéricos quanto o subtítulo desta página, ali em cima. Vale até, para se ter uma noção, um texto, como este, sobre a não-poupança e o imediatismo das idéias. Idéia esta tida ontem, claro.
sábado, 24 de novembro de 2007
O império contra-ataca
A nova empreitada tecnológica do Robert Zemeckis, com roteiro de Neil Gaiman (!) e Roger Avary (!!) , "Beowulf", vai ocupar a sala 3d de um cinema da Barra. Pelo menos eu suspeito fortemente, porque a cabine do longa, que usa a mesma tecnologia desenvolvida para o fracassado "O Expresso Polar", em que Tom Hanks fazia todos os papéis e ganhava apenas um salário, foi na sala em questão. Eu não fui, mas disseram que havia gente se divertindo ao desviar das flechas lançadas nas guerras do herói épico do poema seminal anglo-saxão.
O que isso quer dizer? Que os estúdios acordaram e, em vez de combater a pirataria, estão transformando os seus filmes em centros de entretenimentos. A telona sozinha já não faz mais platéia. As pessoas preferimos ver as produções em casa, sem pagar os ingressos exorbitantes e sem precisar dividir o espaço com os educados espectadores que gostam de comentar, de graça, todo e qualquer movimento do filme.
Ou seja, como bons marqueteiros, os estúdios entenderam que devem vender mais que o filme em si. Devem proporcionar uma diversão que, em casa, o sujeito não alcançaria. Muito mais inteligente que impedir o download.
Claro que isso não vale para todo e qualquer filme, apenas para os com muitas explosões, guerras e efeitos especiais. Ou seja, Hollywood. Por isso, já reservei os meus óculos de aros grossos e lentes especiais.
O que isso quer dizer? Que os estúdios acordaram e, em vez de combater a pirataria, estão transformando os seus filmes em centros de entretenimentos. A telona sozinha já não faz mais platéia. As pessoas preferimos ver as produções em casa, sem pagar os ingressos exorbitantes e sem precisar dividir o espaço com os educados espectadores que gostam de comentar, de graça, todo e qualquer movimento do filme.
Ou seja, como bons marqueteiros, os estúdios entenderam que devem vender mais que o filme em si. Devem proporcionar uma diversão que, em casa, o sujeito não alcançaria. Muito mais inteligente que impedir o download.
Claro que isso não vale para todo e qualquer filme, apenas para os com muitas explosões, guerras e efeitos especiais. Ou seja, Hollywood. Por isso, já reservei os meus óculos de aros grossos e lentes especiais.
Luxos contemporâneos
Ficar sem fazer nada, curiosamente, é um dos meus luxos contemporâneos. Normalmente, estou tão cheio de coisas para fazer nos dias de semana que, nos fins-de, quando não plantoneio, sinto que tenho que preencher a lacuna com algo produtivo.
Qualquer segundo parado, deitado, olhando o nada, escutando música ou apenas lendo o jornal no sofá é desperdício. Poderia estar aprendendo algo novo, visitando coisas interessantes, vendo as diferentes formas do mundo. Em suma, sendo ativo.
O ócio não é bem visto pelo meu piloto automático. Eu, o outro, tenho que tomar as rédeas, de vez em quando, só para me lembrar que posso, sim, ficar deitado na sala vendo o Chung Li ser derrotado pelo João Cláudio Van Damme, como fiz há dois anos, no meu aniversário.
Agora vou parar de escrever para fazer um pouquinho de nada. Com licença.
Qualquer segundo parado, deitado, olhando o nada, escutando música ou apenas lendo o jornal no sofá é desperdício. Poderia estar aprendendo algo novo, visitando coisas interessantes, vendo as diferentes formas do mundo. Em suma, sendo ativo.
O ócio não é bem visto pelo meu piloto automático. Eu, o outro, tenho que tomar as rédeas, de vez em quando, só para me lembrar que posso, sim, ficar deitado na sala vendo o Chung Li ser derrotado pelo João Cláudio Van Damme, como fiz há dois anos, no meu aniversário.
Agora vou parar de escrever para fazer um pouquinho de nada. Com licença.
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Cavalinhos
Está começando a ficar na moda, entre a emergente classe média, investir na bolsa. Um camarada meu disse que ganhou, em apenas um dia, 50% do montante original em uma determinada ação. Outro já sabe que, ano que vem, o Brasil vai ganhar o grau máximo de investimento, o que quer dizer que vai atrair ainda mais gente interessada nas empresas brasileiras, ou melhor, nos papéis negociadas na bolsa em São Paulo.
Hoje, na parte da tarde, escutei uma história que me deu uma imagem bem aproximada do que é jogar na bolsa. Segundo fontes confidenciais, para ganhar muito, deveria comprar uma determinada ação de uma instituição "x", num dia específico, para, três dias depois, ter que vender novamente. Ou seja, segundo o sujeito, em apenas três dias, o montante se multiplicaria.
Foi aí que eu percebi que a investir na bolsa é igual a apostar nos cavalinhos - como dizia o velho Bukowski. Nunca é certo, o risco é alto, o retorno, idem e se você tiver um contato na cocheira certa é
dinheiro na mão e correr para o abraço.
A diferença, talvez, fique no quesito retorno. Um terceiro amigo me disse que nem na crise de 1929, a bolsa de Nova York demorou a se reerguer. Se você tivesse perdido quase tudo com o crack, mas não tirasse a grana, em 1934 já tinha um saldo positivo. Ou seja, vamos às apostas.
Hoje, na parte da tarde, escutei uma história que me deu uma imagem bem aproximada do que é jogar na bolsa. Segundo fontes confidenciais, para ganhar muito, deveria comprar uma determinada ação de uma instituição "x", num dia específico, para, três dias depois, ter que vender novamente. Ou seja, segundo o sujeito, em apenas três dias, o montante se multiplicaria.
Foi aí que eu percebi que a investir na bolsa é igual a apostar nos cavalinhos - como dizia o velho Bukowski. Nunca é certo, o risco é alto, o retorno, idem e se você tiver um contato na cocheira certa é
dinheiro na mão e correr para o abraço.
A diferença, talvez, fique no quesito retorno. Um terceiro amigo me disse que nem na crise de 1929, a bolsa de Nova York demorou a se reerguer. Se você tivesse perdido quase tudo com o crack, mas não tirasse a grana, em 1934 já tinha um saldo positivo. Ou seja, vamos às apostas.
Sofisticação
Com essa, eu quase caí. Não que eu seja bom em antecipar um perigo internético, mas ao receber uma mensagem de e-mail não entregue cujo título era "photos", fiquei realmente curioso. Poderia ser eu. Principalmente porque era um retorno do meu endereço eletrônico.
Entrei e a mensagem dizia: "desculpem-me pela demora, mas só agora cheguei ao Brasil". (Era meu? Retornando só agora?) Só que o texto cometia o único deslize do golpe: estava escrito em espanhol, sem um único erro. Não seria eu.
Muita vontade de infectar computadores alheios.
Entrei e a mensagem dizia: "desculpem-me pela demora, mas só agora cheguei ao Brasil". (Era meu? Retornando só agora?) Só que o texto cometia o único deslize do golpe: estava escrito em espanhol, sem um único erro. Não seria eu.
Muita vontade de infectar computadores alheios.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Crepúsculo do macho
Não é de hoje que se fala sobre a decadência masculina em relação à supremacia feminina, que já se instala. Os papéis nos relacionamentos estão se invertendo, com os homens agindo com os mesmos cacoetes que eram identificados às mulheres.
Mas isso não foi descoberto ontem, nem semana passada. Mario Monicelli em seu "Casanova '70" coloca Marcelo Mastroianni como um major da Otan que se transforma de conquistador em personagem acuado. Ele diz que os homens estão acostumados a caçar e, se não agir desta maneira, perdem a libido pelo sexo oposto.
Não exageremos. Já se passaram quase 40 anos, desde então. Mas que este foi o primeiro pilar a ruir da segurança masculina, estão aí todas as colunas do Jabor em que ele reclama da falta de cortejo e comenta como as símbolos sexuais são feitas para serem olhadas, nada mais, que não me deixam mentir.
Legal no longa é que, além do humor politicamente incorretíssimo costumaz, Monicelli não "resolve" o "problema" encontrado. Apenas aponta que o sujeito-homem vai ter que se virar com essa nova realidade. E Mastroianni dá o seu jeito.
Mas isso não foi descoberto ontem, nem semana passada. Mario Monicelli em seu "Casanova '70" coloca Marcelo Mastroianni como um major da Otan que se transforma de conquistador em personagem acuado. Ele diz que os homens estão acostumados a caçar e, se não agir desta maneira, perdem a libido pelo sexo oposto.
Não exageremos. Já se passaram quase 40 anos, desde então. Mas que este foi o primeiro pilar a ruir da segurança masculina, estão aí todas as colunas do Jabor em que ele reclama da falta de cortejo e comenta como as símbolos sexuais são feitas para serem olhadas, nada mais, que não me deixam mentir.
Legal no longa é que, além do humor politicamente incorretíssimo costumaz, Monicelli não "resolve" o "problema" encontrado. Apenas aponta que o sujeito-homem vai ter que se virar com essa nova realidade. E Mastroianni dá o seu jeito.
Tempo e assunto
Os dois maiores problemas de quem escreve - ou pelo menos deste que vos escreve - são: falta de tempo e assunto. Raramente posso dispor de tantas horas como nestes últimos dias. Mas se os feriados não param o meu trabalho, interrompem as minhas outras atividades. Nestes períodos, optei por escrever mais só pelo prazer. Tenho outro assunto a escrever, mas não é tão despreocupado quanto esse. Exige um tiquinho a mais de mim - isso quer dizer, mais concentração, mais boa vontade, mais vontade.
O outro caso é o resultado direto de escrever em dias alternados. Em não querendo abordar a política e todas as suas futricas ou o noticiário de cidade e / ou policialesco, que é, de certa forma, o meu ganha-pão, o meu universo se restringe a pouquíssimos assuntos. Ou tenho uma idéia / teoria / argumento sobre alguma coisa, ou não tenho sobre o que escrever.
Isso pode ser preguiça ou incapacidade para procurar assuntos interessantes na rede. Ou ainda os assuntos internéticos estão me empolgando menos a cada dia. Vá lá saber. A questão é a ausência de argumentos que dão um texto minimamente digno. Algo que vai fazer escrever por uns três ou quatro parágrafos - porque ninguém na internet consegue ler mais que isso, mesmo.
O que vale nota, agora, ao final, é que dois dos assuntos mais abordados em crônicas jornalísticas são: a falta de tempo e assunto. A famosa crônica sobre o nada. Será que consegui me inserir neste plantel hoje?
O outro caso é o resultado direto de escrever em dias alternados. Em não querendo abordar a política e todas as suas futricas ou o noticiário de cidade e / ou policialesco, que é, de certa forma, o meu ganha-pão, o meu universo se restringe a pouquíssimos assuntos. Ou tenho uma idéia / teoria / argumento sobre alguma coisa, ou não tenho sobre o que escrever.
Isso pode ser preguiça ou incapacidade para procurar assuntos interessantes na rede. Ou ainda os assuntos internéticos estão me empolgando menos a cada dia. Vá lá saber. A questão é a ausência de argumentos que dão um texto minimamente digno. Algo que vai fazer escrever por uns três ou quatro parágrafos - porque ninguém na internet consegue ler mais que isso, mesmo.
O que vale nota, agora, ao final, é que dois dos assuntos mais abordados em crônicas jornalísticas são: a falta de tempo e assunto. A famosa crônica sobre o nada. Será que consegui me inserir neste plantel hoje?
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Duas suposições e uma constatação lingüísticas
1) Tchê, che, c'è.
O "tchê" gaúcho é primo irmão do "che" argentino. Minha proposta é: a origem - digo isso sem pesquisar nada - venha do italiano "c'è", cuja pronúncia é a mesma, nos três casos. Nos dos primeiros casos, a partícula serve como um cacoete verbal, uma "vírgula vocativa", uma maneira de preencher o vazio em uma conversa.
Já no italiano, é o equivalente, mas sem a exata correspondência, ao "há" português. Exemplo: "Há um livro de italiano na minha casa" ; "C'è un libro di italiano in mia casa"
2) tem = existir
Há muito tempo que usamos, na língua corrida, o "tem" no sentido de "existir". Provavelmente, contraindo o "existem", como acontece como o "está", para "tá". Não é aceitado pela norma culta, nem é bem visto por ninguém. Entretanto, o tempo faz questão de mostrar que todo mundo fala: "Tem um livro de italiano na minha casa", quando o correto seria "Há / existe um livro de italiano...".
Dou 50 anos para tudo mudar.
3) Chiado
Na Itália, não se fala "c'è", como nós aprendemos aqui nos cursos, provavelmente a norma culta. Aliás, qualquer palavra com o "c" junto de "e" e "i" é com o mesmo som: chiado. Como, aliás, no Rio, Recife e em Portugal.
Ou seja, o som da palavra que originou o "tchê" gaúcho é, hoje, algo próximo ao "che", lido em português, não em espanhol.
E fechamos o ciclo.
O "tchê" gaúcho é primo irmão do "che" argentino. Minha proposta é: a origem - digo isso sem pesquisar nada - venha do italiano "c'è", cuja pronúncia é a mesma, nos três casos. Nos dos primeiros casos, a partícula serve como um cacoete verbal, uma "vírgula vocativa", uma maneira de preencher o vazio em uma conversa.
Já no italiano, é o equivalente, mas sem a exata correspondência, ao "há" português. Exemplo: "Há um livro de italiano na minha casa" ; "C'è un libro di italiano in mia casa"
2) tem = existir
Há muito tempo que usamos, na língua corrida, o "tem" no sentido de "existir". Provavelmente, contraindo o "existem", como acontece como o "está", para "tá". Não é aceitado pela norma culta, nem é bem visto por ninguém. Entretanto, o tempo faz questão de mostrar que todo mundo fala: "Tem um livro de italiano na minha casa", quando o correto seria "Há / existe um livro de italiano...".
Dou 50 anos para tudo mudar.
3) Chiado
Na Itália, não se fala "c'è", como nós aprendemos aqui nos cursos, provavelmente a norma culta. Aliás, qualquer palavra com o "c" junto de "e" e "i" é com o mesmo som: chiado. Como, aliás, no Rio, Recife e em Portugal.
Ou seja, o som da palavra que originou o "tchê" gaúcho é, hoje, algo próximo ao "che", lido em português, não em espanhol.
E fechamos o ciclo.
sábado, 17 de novembro de 2007
LCD, I love you, but you're bringing me down (after the show ends)
O que eu via, da esquerda para a direita: um gordinho usando óculos e uma guitarra; uma japa baixinha, saída da bateria dos Gorillaz, que mexia nos teclados e programações; no meio, atrás, um clone do irmão problemático da "Miss Sunshine", com um ou dois anos a mais e um baixo a tira-colo; na frente, James Murphy, com o peso dos seus 37 anos em volta da cintura; do seu lado, o batera, O homem da banda, com um shortinho amarelo, curtíssimo, e um dockside nos pés.
Esta era a banda. Quem interceptasse um dos fulanos nas ruas de Nova York e perguntasse qual a profissão exercida, jamais acreditaríamos que eles eram da banda mais legal do mundo. Legal em português mais que no sentido inglês. São pessoas comuns, poderiam ser nossos amigos, com quem tomamos cerveja no fim de semana. Após uma menina pular do palco, Murphy se preocupou, apenas, se ela estava "ok".
E o que é a música? Algo novo. Nada do que já tinha sido inventado. Eles tocam música eletrônica (o que um leigo, como eu, identificaria como) usando instrumentos "analógicos". Desconstrói o house transformando-o em algo mais rock 'n roll. Foi tão punk que em certa música abriu uma roda de pogo.
E o que foi "Someone great"? Momento mais feliz em décadas. E o que foi "All my friends"? Pessoas se abraçando, felicidade em toda a arena. E o que foi "New York, I love you"? E o que foi "New York, I love you", fechando com gostinho de quero-muito-mais?
Pareceu que o show foi pequeno. Na verdade, nós - platéia - é que queríamos mais. Os poucos que estávamos lá vamos lembrar do melhor show de 2007. E se o Interpol não se esforçar, o melhor de 2008 também.
<><><><>
O show só me confirmou que Nova York é, provavelmente, a maior Meca da música, nesse início de século/milênio. Estão aí Interpol, LCD e TV on the Radio que não me deixam mentir.
Esta era a banda. Quem interceptasse um dos fulanos nas ruas de Nova York e perguntasse qual a profissão exercida, jamais acreditaríamos que eles eram da banda mais legal do mundo. Legal em português mais que no sentido inglês. São pessoas comuns, poderiam ser nossos amigos, com quem tomamos cerveja no fim de semana. Após uma menina pular do palco, Murphy se preocupou, apenas, se ela estava "ok".
E o que é a música? Algo novo. Nada do que já tinha sido inventado. Eles tocam música eletrônica (o que um leigo, como eu, identificaria como) usando instrumentos "analógicos". Desconstrói o house transformando-o em algo mais rock 'n roll. Foi tão punk que em certa música abriu uma roda de pogo.
E o que foi "Someone great"? Momento mais feliz em décadas. E o que foi "All my friends"? Pessoas se abraçando, felicidade em toda a arena. E o que foi "New York, I love you"? E o que foi "New York, I love you", fechando com gostinho de quero-muito-mais?
Pareceu que o show foi pequeno. Na verdade, nós - platéia - é que queríamos mais. Os poucos que estávamos lá vamos lembrar do melhor show de 2007. E se o Interpol não se esforçar, o melhor de 2008 também.
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O show só me confirmou que Nova York é, provavelmente, a maior Meca da música, nesse início de século/milênio. Estão aí Interpol, LCD e TV on the Radio que não me deixam mentir.
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Banco x chão de fábrica
Seguindo um conselho do camarada Fabrício Yuri Vitorino, o homem que falava russo, resolvi comentar algo que já estava na minha cabeça há muito tempo, que havia sido soprado por outro camarada, Abelito, e foi dito em voz alta, num evento, em tom de irônia (não podia ser outro), pelo LFVeríssimo: os jovens atuais são de direita.
Logo, não há nada mais conservador que ser de esquerda. Ou seja, quem quer mudanças, quer que o que está aí se transforme em algo novo, tem, no mínimo, 35, 40 anos na carteira de identidade ou na cabeça.
Em conversa com Abelito, ele usa o mesmo conceito, sobre outra perspectiva. Segundo sua teoria, os caras que estão na faixa dos 20 - um pouco antes, ou pouco depois - não tem mais a ilusão que vão mudar o mundo. Apenas querem ficar ricos, o mais rápido possível, para comprar a sua mansão em Angra e ter um Audi do ano. Ou seja, as aspirações são angularmente diferentes das propostas pelos seus correlatos da década de 60, 70.
Já o Veríssimo, usa a metáfora das redações para exemplificar o mesmo conceito. Ele argumenta que dos editores para baixo - repórteres, redatores, copidesques e todo o tipo de ralé - parece saída de uma agência bancária, tamanho é o seu silêncio e calmaria.
"Nos últimos anos, os jornais e as revistas brasileiras deram uma guinada à direita. Mas, quando comecei no jornalismo, todos nós éramos de esquerda. A gente aceitava o fato de ser direita quando era do editor pra cima. Hoje, é o contrário. Do editor pra baixo, os jornalistas preferem ser de direita."
Para depois explicar, com uma teoria veríssima, o seu argumento:
"Isso tem muito a ver com a mudança das máquinas de escrever para os computadores. Como as redações eram barulhentas e agitadas, os jornalistas se identificavam mais com os trabalhadores das fábricas. Hoje, com os computadores, as redações parecem bancos. Limpas, aquele silêncio... Sei que é uma teoria meio forçada...".
Claro que a queda do Muro de Berlim, e tudo o que isso significou nos últimos anos, tem a ver com essa mudança. Nem estou mais na idade para tentar teorizar sobre essa guinada argumentando sobre as sucessões de gerações, fim da bipolaridade, outros tipos possíveis de "ser de esquerda". Mas não consigo me acostumar nem gostar do fato de as pessoas serem cada vez mais individualistas e pensarem menos nas outras. De uma maneira geral, claro.
Logo, não há nada mais conservador que ser de esquerda. Ou seja, quem quer mudanças, quer que o que está aí se transforme em algo novo, tem, no mínimo, 35, 40 anos na carteira de identidade ou na cabeça.
Em conversa com Abelito, ele usa o mesmo conceito, sobre outra perspectiva. Segundo sua teoria, os caras que estão na faixa dos 20 - um pouco antes, ou pouco depois - não tem mais a ilusão que vão mudar o mundo. Apenas querem ficar ricos, o mais rápido possível, para comprar a sua mansão em Angra e ter um Audi do ano. Ou seja, as aspirações são angularmente diferentes das propostas pelos seus correlatos da década de 60, 70.
Já o Veríssimo, usa a metáfora das redações para exemplificar o mesmo conceito. Ele argumenta que dos editores para baixo - repórteres, redatores, copidesques e todo o tipo de ralé - parece saída de uma agência bancária, tamanho é o seu silêncio e calmaria.
"Nos últimos anos, os jornais e as revistas brasileiras deram uma guinada à direita. Mas, quando comecei no jornalismo, todos nós éramos de esquerda. A gente aceitava o fato de ser direita quando era do editor pra cima. Hoje, é o contrário. Do editor pra baixo, os jornalistas preferem ser de direita."
Para depois explicar, com uma teoria veríssima, o seu argumento:
"Isso tem muito a ver com a mudança das máquinas de escrever para os computadores. Como as redações eram barulhentas e agitadas, os jornalistas se identificavam mais com os trabalhadores das fábricas. Hoje, com os computadores, as redações parecem bancos. Limpas, aquele silêncio... Sei que é uma teoria meio forçada...".
Claro que a queda do Muro de Berlim, e tudo o que isso significou nos últimos anos, tem a ver com essa mudança. Nem estou mais na idade para tentar teorizar sobre essa guinada argumentando sobre as sucessões de gerações, fim da bipolaridade, outros tipos possíveis de "ser de esquerda". Mas não consigo me acostumar nem gostar do fato de as pessoas serem cada vez mais individualistas e pensarem menos nas outras. De uma maneira geral, claro.
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Enoch Soames
(Imagem: "Enoch Soames, esq.1896", de William Rothenstein 1872-1945, Pastel. 38 x 27.5 cm, signed and dated “W.R. ’95.” Exhibited at The New English Art Club.)
Um escritor da virada do século xix para o xx aparece, misteriosamente, na Londres de 1997, onde um grupo pequeno de convivas está esperando sua presença. Após poucos minutos, ele some.
Ou melhor, um escritor fracassado, acreditando que só será entendido no futuro, resolve vender a alma para o diabo em busca da viagem no tempo em que saberá como será celebrado.
Ou ainda: um escritor em ascenção - o autor do conto - faz um ensaio biográfico sobre o primeiro - em decadência - narrando sua incomum viagem a cem anos no futuro em que este confere catálogos e enciclopédias para saber se realmente vai existir na História. Então descobre que a única referência a ele - Enoch Soames - só aparecerá em uma obra que ainda não foi escrita no período em que / de onde ele partiu; e ainda por cima pelo primeiro sujeito, autor do conto.
Confuso? Pode parecer, mas é quase proposital. Na leitura, o "Enoch Soames" em questão é facilmente decodificado, mesmo sendo lido em espanhol ou em inglês.
Escrito pelo caricaturista e parodista Max Beerbohm, a narrativa brinca com uns códigos literários já estabelecidos, como a viagem no tempo (Wells), o contrato com o diabo (Goethe, para ficar no exemplo mais conhecido), o ensaio sobre um livro apócrifo, escrito em primeira pessoa e se incluindo como personagem (Borges), a brincadeira entre a repercussão do futuro como um evento do passado (foi Henry James que já fez isso?).
Curiosamente, em 1997, quando Soames deveria aparecer em Londres novamente, pessoas foram para o lugar e a hora marcada. Bem, aconteceu pelo menos na ficção de Teller, um mágico de um nome só que ganha a vida escrevendo para comediantes americanos, junto com um tal de Penn.
Além de ter provocado essa corrida para vê-lo, o site Enoch Soames: the critical heritage garante que Soames existiu de verdade. Na página estão artigos como "A Calúnia de Beerbohm" ou que exalta o "Catolicismo Diabólico", a religião que Soames professa.
Como se vê, um conto que brincou com a literatura desde o início.
domingo, 4 de novembro de 2007
Psiu
Senti uma forte identificação no caso do ministro do STF que abriu um processo contra um jornalista da própria assessoria da corte que precisava falar com a vossa excelência. Claro que me identifiquei com o jornalista - não por ter a mesma profissão, óbvio. Mas por uma-dessas-coincidências-da-vida.
Em Berlim, levamos uns amigos para jantarmos perto do albergue onde estávamos instalados. Escolhemos a cozinha mais exótica - de Cingapura - e nos sentamos, na mesa mais distante do salão, na calçada, e pouco conforto. Com a demora no atendimento, resolvi, de maneira a agilizar o processo, chamar o garçom. Mas: como se chama alguém em alemão? Ou melhor, em malaio - língua falada em Cingapura? (Obrigado wikipedia por mais essa). Recorri ao tradicional assovio.
O garçom se aproximou e nos perguntou de onde éramos. Ao responder, ele não se deu por satisfeito e disse que brasileiros eram "not respect" e que ele não era cachorro. Decidimos, por nossa saúde, já que nunca tínhamos comido nada cingapuriano e poderia vir com algo inclassificável e fora do cardápio, irmos embora.
Conversando com um camarada meu, ex-dono de bar, ele disse que os garçons brasileiros também detestam ser tratados por um "psiu". Mas não consigo entender. Generalizar o chamamento como algo ruim não necessariamente faz sentido. Ou, em outras palavras: é possível que ao assoviar, não se esteja sendo desrespeitoso, apenas tentando travar uma comunicação.
É claro que qualquer pessoa deve escolher a maneira como é chamada. Mas a síndrome do assovio mais me parece insegurança e uma necessidade de auto-afirmação, principalmente quando o reclamante é um juiz do STF, recém-empossado.
***
Outra das-coincidências-da-vida aconteceu com o texto do Veríssimo, semana passada, sobre uma viagem à Europa. Copio o trecho inicial:
"Quem anda como eu andei há dias pelas ruas de uma cidade como Florença, cuidando para não ser carregado por uma das manadas de turistas que seguem afobadamente uma bandeirinha com terror de se perder do guia (e não era nem a alta temporada!), não pode deixar de ter um pensamento: — E quando chegarem os chineses? E os chineses virão."
Pensamos, para resolver problemas de concentração de pessoas em frente a determinados pontos turísticos, que deveríamos instituir o dia do turista japonês.
Em Berlim, levamos uns amigos para jantarmos perto do albergue onde estávamos instalados. Escolhemos a cozinha mais exótica - de Cingapura - e nos sentamos, na mesa mais distante do salão, na calçada, e pouco conforto. Com a demora no atendimento, resolvi, de maneira a agilizar o processo, chamar o garçom. Mas: como se chama alguém em alemão? Ou melhor, em malaio - língua falada em Cingapura? (Obrigado wikipedia por mais essa). Recorri ao tradicional assovio.
O garçom se aproximou e nos perguntou de onde éramos. Ao responder, ele não se deu por satisfeito e disse que brasileiros eram "not respect" e que ele não era cachorro. Decidimos, por nossa saúde, já que nunca tínhamos comido nada cingapuriano e poderia vir com algo inclassificável e fora do cardápio, irmos embora.
Conversando com um camarada meu, ex-dono de bar, ele disse que os garçons brasileiros também detestam ser tratados por um "psiu". Mas não consigo entender. Generalizar o chamamento como algo ruim não necessariamente faz sentido. Ou, em outras palavras: é possível que ao assoviar, não se esteja sendo desrespeitoso, apenas tentando travar uma comunicação.
É claro que qualquer pessoa deve escolher a maneira como é chamada. Mas a síndrome do assovio mais me parece insegurança e uma necessidade de auto-afirmação, principalmente quando o reclamante é um juiz do STF, recém-empossado.
***
Outra das-coincidências-da-vida aconteceu com o texto do Veríssimo, semana passada, sobre uma viagem à Europa. Copio o trecho inicial:
"Quem anda como eu andei há dias pelas ruas de uma cidade como Florença, cuidando para não ser carregado por uma das manadas de turistas que seguem afobadamente uma bandeirinha com terror de se perder do guia (e não era nem a alta temporada!), não pode deixar de ter um pensamento: — E quando chegarem os chineses? E os chineses virão."
Pensamos, para resolver problemas de concentração de pessoas em frente a determinados pontos turísticos, que deveríamos instituir o dia do turista japonês.
Médicos
Vi, até hoje, três episódios de "House", a série americana do médico manco que detesta atender pacientes e trata a doença. Generalizando, o seriado usa uma fórmula que deu certo: aparece um sujeito no hospital com algo que ninguém sabe o que é. A equipe do doutor House começa a elocubrar quais possibilidades de males o enfermo pode ter. Erram algumas vezes, o doente quase morre, até que, num estalo, House, que odeia conversar com os acamados, vai ter com o dito-cujo para contar-lhe qual é a maneira de resolver o embróglio.
É curioso e faz sucesso porque mostra um médico cínico, desumano (no sentido de preterir a convivência com os iguais) e que acerta sempre os seus diagnósticos. Os diálogos são, realmente, muito bem formulados.
Contudo, vislumbro outra possibilidade: é a maneira de vermos, verdadeiramente, os médicos, como eles são - sem as máscaras, sem os sorrisos e sem a mise en scène.
Não tenho boa convivência com os doutores. Raros são os com quem consigo travar qualquer diálogo. Geralmente porque sinto um ar de superioridade emanando do sujeito de branco atrás da mesa - que nunca se levanta. Claro que estou generalizando. Mas, ao ver "House", me senti, de certa forma, vingado.
É curioso e faz sucesso porque mostra um médico cínico, desumano (no sentido de preterir a convivência com os iguais) e que acerta sempre os seus diagnósticos. Os diálogos são, realmente, muito bem formulados.
Contudo, vislumbro outra possibilidade: é a maneira de vermos, verdadeiramente, os médicos, como eles são - sem as máscaras, sem os sorrisos e sem a mise en scène.
Não tenho boa convivência com os doutores. Raros são os com quem consigo travar qualquer diálogo. Geralmente porque sinto um ar de superioridade emanando do sujeito de branco atrás da mesa - que nunca se levanta. Claro que estou generalizando. Mas, ao ver "House", me senti, de certa forma, vingado.
sábado, 27 de outubro de 2007
'Mais som'
Um dos maiores problemas do Tim Festival - e de todos os festivais de música que já fui - é a duração de suas atrações preliminares. Ano passado, com o Shadow, foi constrangedor. Quarenta minutos de apresentação e um disco tocando enquanto ele se despedia. A platéia não entendemos nada.
Esse ano, além de terem brifado erradamente o Antônio e os Joões, que se apresentou num formato "piano show" para uma platéia em pé, ávida por fortes emoções, o show do moço também demorou os cronometrados 40 minutos. Nada de bis, nada de exceção, porque ele ainda ia cantar no outro palco, das Divas.
Mas o pior caso foi o de Björk. Coitada, com quase 20 anos de estrada, teve que se contentar em abrir para os garotos de quase 20 anos do Arctic Monkeys. Com essa idéia de colocar várias atrações em poucos palcos, ela tocou no mesmo espaço físico que os inglesinhos tocariam em seguida. A platéia até mudou - saíram os übermoderns e entraram os teens cool - mas a islandesa, que não cantou nada em islandês, não pôde nem dividir o espaço com o Antônio, do grupo citado ali em cima. O bis foi uma única música. Contentemos-nos e fiquemos contentes.
Apesar dos pesares, a semi-esquimó fez o mais produzido show que presenciei em toda a minha vida. Na segunda música já tinha colocado a platéia completamente no bolso e a partir daí, todas as suas intervenções cênicas - tipo serpentinas, raios laser, as encenações teatrais do coro, etc. - eram deleitadas pelo povão. Os exageros de Björk são legais, vai. Pena que foi curto, tipo uma hora.
Esse ano, além de terem brifado erradamente o Antônio e os Joões, que se apresentou num formato "piano show" para uma platéia em pé, ávida por fortes emoções, o show do moço também demorou os cronometrados 40 minutos. Nada de bis, nada de exceção, porque ele ainda ia cantar no outro palco, das Divas.
Mas o pior caso foi o de Björk. Coitada, com quase 20 anos de estrada, teve que se contentar em abrir para os garotos de quase 20 anos do Arctic Monkeys. Com essa idéia de colocar várias atrações em poucos palcos, ela tocou no mesmo espaço físico que os inglesinhos tocariam em seguida. A platéia até mudou - saíram os übermoderns e entraram os teens cool - mas a islandesa, que não cantou nada em islandês, não pôde nem dividir o espaço com o Antônio, do grupo citado ali em cima. O bis foi uma única música. Contentemos-nos e fiquemos contentes.
Apesar dos pesares, a semi-esquimó fez o mais produzido show que presenciei em toda a minha vida. Na segunda música já tinha colocado a platéia completamente no bolso e a partir daí, todas as suas intervenções cênicas - tipo serpentinas, raios laser, as encenações teatrais do coro, etc. - eram deleitadas pelo povão. Os exageros de Björk são legais, vai. Pena que foi curto, tipo uma hora.
-*-
Outra SUPERbola-fora foi o calor de sauna a vapor das tendas. Será que tentaram compensar os anos anteriores em que era gelado como a, ãh, Islândia?_*_
O trocadilho (infame) do título é em homenagem ao outro Tim, Sebastião Maia.
O trocadilho (infame) do título é em homenagem ao outro Tim, Sebastião Maia.
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
De volta para o passado
As minhas férias deste ano foram uma viagem na História. Não houve, diferentemente das últimas, para a Argentina, nenhum momento de êxtase - como quando estávamos em Chálten - ou de identificação extrema - como as caminhadas por Buenos Aires. Funcionou como uma forma de conhecer o passado.
Cada uma das cidades visitadas representavam períodos históricos específicos. Tipo: Roma, império romano, claro; Köln, fim da idade média, período gótico; Florença, Renascimento, época em que Botticelli, Leonardo e Michelangelo conviveram; Berlim, século xx.
Claro que essas determinações não são concretas. E só em um único lugar de Roma, a igreja de São Clemente, próximo do Coliseu, foram encontradas ruínas de um templo em homenagem a uma deusa persa, que foi soterrado por uma igreja do século iv, para onde teriam sido levados os restos mortais do São Clemente, levados por São Cilírico e São Metódico, que por sua vez foi soterrado por uma outra igreja, do século xii, também em homenagem a São Clemente.
Ou em Berlim que, ao lado do Check Point Charlie, o famoso muro foi construído sobre as ruínas de prédios nazistas.
Centenas de anos dos europeus dão uma certa vantagem a eles. Mas isso não quer dizer, é claro, que se tivermos o mesmo tempo histórico, alcançaremos a organização alemã e o passado artístico italiano. Cada país tem os seus problemas particulares e deve conseguir arranjar as suas próprias soluções.
Cheguei a essa conclusão após ficar matutando sobre Cinque Terre, uma região que reúne cinco paesi, na Ligúria, a uma hora de Gênova e cinco minutos de La Spezia, que juntos têm menos de cinco mil habitantes. Os povoadinhos são favelinhas que se transformaram em pontos turísticos porque à beira do Mar Mediterrâneo são, realmente, muito bonitos.
Mas, por mais que a Rocinha e o Vidigal estejam recebendo mais e mais turistas, não posso imaginar que algum dia o Alemão vá ser procurado por um contingente de visitantes muito grande. Além do mais, as favelas do complexo, juntas, têm, provavelmente, mais habitantes que em toda a Ligúria. Ou seja, o nosso caso é, bem, mais complexo.
Cada uma das cidades visitadas representavam períodos históricos específicos. Tipo: Roma, império romano, claro; Köln, fim da idade média, período gótico; Florença, Renascimento, época em que Botticelli, Leonardo e Michelangelo conviveram; Berlim, século xx.
Claro que essas determinações não são concretas. E só em um único lugar de Roma, a igreja de São Clemente, próximo do Coliseu, foram encontradas ruínas de um templo em homenagem a uma deusa persa, que foi soterrado por uma igreja do século iv, para onde teriam sido levados os restos mortais do São Clemente, levados por São Cilírico e São Metódico, que por sua vez foi soterrado por uma outra igreja, do século xii, também em homenagem a São Clemente.
Ou em Berlim que, ao lado do Check Point Charlie, o famoso muro foi construído sobre as ruínas de prédios nazistas.
Centenas de anos dos europeus dão uma certa vantagem a eles. Mas isso não quer dizer, é claro, que se tivermos o mesmo tempo histórico, alcançaremos a organização alemã e o passado artístico italiano. Cada país tem os seus problemas particulares e deve conseguir arranjar as suas próprias soluções.
Cheguei a essa conclusão após ficar matutando sobre Cinque Terre, uma região que reúne cinco paesi, na Ligúria, a uma hora de Gênova e cinco minutos de La Spezia, que juntos têm menos de cinco mil habitantes. Os povoadinhos são favelinhas que se transformaram em pontos turísticos porque à beira do Mar Mediterrâneo são, realmente, muito bonitos.
Mas, por mais que a Rocinha e o Vidigal estejam recebendo mais e mais turistas, não posso imaginar que algum dia o Alemão vá ser procurado por um contingente de visitantes muito grande. Além do mais, as favelas do complexo, juntas, têm, provavelmente, mais habitantes que em toda a Ligúria. Ou seja, o nosso caso é, bem, mais complexo.
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Incomunicabilidade
"...durante algum tempo, eu pensava que cada pessoa tinha sua própria língua. Seria curioso, centenas de milhões de idiomas. E talvez seja verdade – seria por isso que não nos compreendemos." Adivinhe quem.
sábado, 25 de agosto de 2007
Dez reais
Quarta-feira, mais de 22h, voltava para casa do trabalho quando encontrei uma nota de R$ 10 no chão. Minha primeira reação: é falsa. A segunda: é uma pegadinha. Terceira: o que devo fazer? Quarta: é para pegar? Posso? Devo? E até agora não sei o certo a fazer.
Peguei a nota, me sentindo mal. Como se estivesse roubando de alguém. Principalmente porque ela estava em frente a um prédio de apartamentos. Imaginei que o dono era alguém que morasse ali. E eu estava usurpando desse alguém. Não me pertencia, não era meu e eu agora a carregava no bolso.
Fiquei uns minutos levando o dinheiro fora da carteira, num bolso da calça, meio que para não misturar com o restante. Tudo bem que eu só tinha outros R$ 2 comigo, logo não tinha como contaminar muita coisa. Ainda não o gastei. Continua na carteira, ao lado dois R$ 2, inclusive. Com esse dinheiro, o meu orçamento aumentou em mais de 40%.
Imaginei que poderia ser algo cármico. No dia anterior, o porteiro do meu prédio me pediu R$ 2. Sem nem perguntar por quê, fiz uma cata no meu cofrinho e arregimentei moedas de 10 e 5 centavos até a quantia. Não sou assim bom de coração, daqueles que fazem o bem sem olhar a quem. No domingo anterior, ele havia pedido R$ 20 e eu não pude ajudar porque não tinha tanto. Mas vou parar de pensar assim, estou parecendo até religioso. Pior, quase cristão.
A questão é que não me decidi se é certo ou errado ter pego um dinheiro no chão. A minha quinta reação, a que me fez catar, foi: se eu não pegar, alguém vai. Mas, por que tinha que ser eu? O que me faz melhor que as outras pessoas para ficar com esse dinheiro que não me pertence?
Lembro da minha mão repetindo um dizer: "Achado não é roubado, quem perdeu foi relaxado". Mas, o dinheiro... bem... ele não é meu... não fiz nada para o merecer. Sempre tive uma dificuldade enorme de lidar com a sorte. E essa história, talvez, seja apenas mais um exemplo desse meu "problema". Como assim recebo algo sem ter feito nada em pró, como receber despropositadamente, como ser o sorteado de algo? (Talvez por isso eu nunca tenha ganho nenhum sorteio, bingo ou mesmo rifa.)
Enfim, tudo isso para dizer que: quem souber de alguém que perdeu R$ 10, pode falar comigo. Prometo devolver.
Peguei a nota, me sentindo mal. Como se estivesse roubando de alguém. Principalmente porque ela estava em frente a um prédio de apartamentos. Imaginei que o dono era alguém que morasse ali. E eu estava usurpando desse alguém. Não me pertencia, não era meu e eu agora a carregava no bolso.
Fiquei uns minutos levando o dinheiro fora da carteira, num bolso da calça, meio que para não misturar com o restante. Tudo bem que eu só tinha outros R$ 2 comigo, logo não tinha como contaminar muita coisa. Ainda não o gastei. Continua na carteira, ao lado dois R$ 2, inclusive. Com esse dinheiro, o meu orçamento aumentou em mais de 40%.
Imaginei que poderia ser algo cármico. No dia anterior, o porteiro do meu prédio me pediu R$ 2. Sem nem perguntar por quê, fiz uma cata no meu cofrinho e arregimentei moedas de 10 e 5 centavos até a quantia. Não sou assim bom de coração, daqueles que fazem o bem sem olhar a quem. No domingo anterior, ele havia pedido R$ 20 e eu não pude ajudar porque não tinha tanto. Mas vou parar de pensar assim, estou parecendo até religioso. Pior, quase cristão.
A questão é que não me decidi se é certo ou errado ter pego um dinheiro no chão. A minha quinta reação, a que me fez catar, foi: se eu não pegar, alguém vai. Mas, por que tinha que ser eu? O que me faz melhor que as outras pessoas para ficar com esse dinheiro que não me pertence?
Lembro da minha mão repetindo um dizer: "Achado não é roubado, quem perdeu foi relaxado". Mas, o dinheiro... bem... ele não é meu... não fiz nada para o merecer. Sempre tive uma dificuldade enorme de lidar com a sorte. E essa história, talvez, seja apenas mais um exemplo desse meu "problema". Como assim recebo algo sem ter feito nada em pró, como receber despropositadamente, como ser o sorteado de algo? (Talvez por isso eu nunca tenha ganho nenhum sorteio, bingo ou mesmo rifa.)
Enfim, tudo isso para dizer que: quem souber de alguém que perdeu R$ 10, pode falar comigo. Prometo devolver.
terça-feira, 21 de agosto de 2007
Cadê o porquinho?
Num fim de semana animado, em que vimos "Ratatouille", "Shrek, o terceiro" e "Os Simpsons" fiquei com a noção do óbvio: o melhor cinema produzido pela indústria americana é a animação. Eles que gostam tanto do conceito de filme de gênero, criou um que pode ser qualquer coisa, mas que tem sempre o mesmo tipo enredo, com forte raízes da narrativa mais tradicional.
Tive um problema grave com "Ratatouille", mas me disseram que é a melhor animação já feita. Misturando conceitos de 2d (do povo da Disney) com 3d (da Pixar). Quem sou eu para discutir. Já "Shrek..." me pareceu mais do mesmo. A piada já foi contada, não tem tanta graça assim...
Entretanto, "Simpsons" me pareceu engraçadíssimo. Talvez porque não via um episódio há muito tempo, talvez porque eles realmente capricharam, talvez porque atingiu a expectativa que eu tinha dele. A única questão que fica, após terminar de vê-lo, é: para onde foi o porquinho, causador de toda a tragédia da família?
Tive um problema grave com "Ratatouille", mas me disseram que é a melhor animação já feita. Misturando conceitos de 2d (do povo da Disney) com 3d (da Pixar). Quem sou eu para discutir. Já "Shrek..." me pareceu mais do mesmo. A piada já foi contada, não tem tanta graça assim...
Entretanto, "Simpsons" me pareceu engraçadíssimo. Talvez porque não via um episódio há muito tempo, talvez porque eles realmente capricharam, talvez porque atingiu a expectativa que eu tinha dele. A única questão que fica, após terminar de vê-lo, é: para onde foi o porquinho, causador de toda a tragédia da família?
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
Harry Skywalker
Acompanhando R., vi o quinto filme da série "Harry Potter". Está longe de ser excepcional, mas não é nada ruim. Entretem e, salvo uns deslizes, passa de ano, sem ir para a recuperação.
Curiosamente, durante uma cena, me lembrei diretamente de outra série voltada para adolescentes de todas as idades de uma outra geração: "Star Wars". Potter está com a mulher do Tim Burton em mira - ela, claro, faz uma bruxa má - e é tentado a matá-la por seu maior rival, Voldemort - interpretado por um irreconhecível Ralph Fiennes.
Potter escuta uma voz que insiste que deve matar Bonham-Carter, porque ele está com raiva - ela acabara de matar um amigo de seu pai - Sirius Black, feito pelo Gary Oldman. O menino não a finaliza porque, num momento de consciência, percebe que isso seria a atitude do vilão.
Exatamente como em "Retorno de Jedi", quando Luke consegue imobilizar Darth Vader e o imperador insiste que ele deve acabar com o próprio pai - no que ele refuga, por se tratar, obviamente, de uma atitude do lado negro da força.
Aliás, há uma ligação não-explicada até o momento entre Voldemort e Potter. Exatamente como acontecia com Luke e Darth Vader, até a descoberta do parentesco entre os dois.
Há também uma espécie de messianismo nos dois protagonistas, fruto do mais tradicional épico, em que as duas histórias se baseiam. Fora o maniqueísmo exarcebado, o bem contra o mal, o "dark side of the force", essas coisas; a utilização de seres fantásticos, de um universo paralelo; e a transformação de objetos do nosso cotidiano para este mundo bizarro.
Claro que JK Rowling não se espelhou na obra de George Lucas - provavelmente são todas coincidências entre as duas sagas. O sucesso, porém, não deveria espantar ninguém. Provavelmente daqui a 20 anos, haverá outra onda com pessoas em polvorosa se vestindo de personagem e indo pagar mico em cinemas e livrarias.
ps. Conversando com amigos, após escrever este texto, dei-me conta que "Senhor dos Anéis" também tem premissas muito parecidas - só eu que não atentei para isso. Deve ser a minha inexperiência em "épicos fantásticos".
Curiosamente, durante uma cena, me lembrei diretamente de outra série voltada para adolescentes de todas as idades de uma outra geração: "Star Wars". Potter está com a mulher do Tim Burton em mira - ela, claro, faz uma bruxa má - e é tentado a matá-la por seu maior rival, Voldemort - interpretado por um irreconhecível Ralph Fiennes.
Potter escuta uma voz que insiste que deve matar Bonham-Carter, porque ele está com raiva - ela acabara de matar um amigo de seu pai - Sirius Black, feito pelo Gary Oldman. O menino não a finaliza porque, num momento de consciência, percebe que isso seria a atitude do vilão.
Exatamente como em "Retorno de Jedi", quando Luke consegue imobilizar Darth Vader e o imperador insiste que ele deve acabar com o próprio pai - no que ele refuga, por se tratar, obviamente, de uma atitude do lado negro da força.
Aliás, há uma ligação não-explicada até o momento entre Voldemort e Potter. Exatamente como acontecia com Luke e Darth Vader, até a descoberta do parentesco entre os dois.
Há também uma espécie de messianismo nos dois protagonistas, fruto do mais tradicional épico, em que as duas histórias se baseiam. Fora o maniqueísmo exarcebado, o bem contra o mal, o "dark side of the force", essas coisas; a utilização de seres fantásticos, de um universo paralelo; e a transformação de objetos do nosso cotidiano para este mundo bizarro.
Claro que JK Rowling não se espelhou na obra de George Lucas - provavelmente são todas coincidências entre as duas sagas. O sucesso, porém, não deveria espantar ninguém. Provavelmente daqui a 20 anos, haverá outra onda com pessoas em polvorosa se vestindo de personagem e indo pagar mico em cinemas e livrarias.
ps. Conversando com amigos, após escrever este texto, dei-me conta que "Senhor dos Anéis" também tem premissas muito parecidas - só eu que não atentei para isso. Deve ser a minha inexperiência em "épicos fantásticos".
terça-feira, 31 de julho de 2007
Cinema incomunicável
Nunca fui um fã de Antonioni. Havia visto três filmes e um terço. Gostava de dois: "Blow up", o primeiro a que assisti, por causa simplesmente da inspiração em um conto de Cortázar, e "Profissão repórter", com Jack Nicholson e aquele travelling famoso. Desisti dele com o terceiro, "Deserto vermelho". Vi "Eros", em que seu terço é totalmente esquecível - pelo menos para mim.
A coincidência incrível da morte de Antonioni um dia após Bergman, além do fato óbvio, é por ambos serem considerados cineastas da "incomunicabilidade", termo em moda até a década de 1970 e que quer dizer muitas coisas e nada, ao mesmo tempo.
As semelhanças entre o italiano e o sueco eram quase nenhuma - para exagerar para cima. Mas fico impressionado com tanta gente boa que citava Michelangelo como um de seus cineastas de cabeceira. Gente como Walter Salles e Ricardo Calil. Acho que vou dar outra chance a ele.
A coincidência incrível da morte de Antonioni um dia após Bergman, além do fato óbvio, é por ambos serem considerados cineastas da "incomunicabilidade", termo em moda até a década de 1970 e que quer dizer muitas coisas e nada, ao mesmo tempo.
As semelhanças entre o italiano e o sueco eram quase nenhuma - para exagerar para cima. Mas fico impressionado com tanta gente boa que citava Michelangelo como um de seus cineastas de cabeceira. Gente como Walter Salles e Ricardo Calil. Acho que vou dar outra chance a ele.
segunda-feira, 30 de julho de 2007
Homenagem inconsciente
A minha primeira reação ao saber que Bergman havia morrido foi parecida com a do Calil ("De tanto repetirmos que certos artistas são imortais, acabamos por acreditar"). A segunda foi mais estranha. Fiquei triste, como se fosse com a morte de um sujeito próximo. Mesmo que eu lide bem com a morte, fiquei para baixo, de luto mesmo.
Percebi que todos os caras que admiro e que ainda estão vivos vão morrer antes de mim. Se a "ordem natural das coisas" acontecer, vou acompanhar o enterro, sem ordem, de Woody Allen, do Veríssimo, do Chico Buarque. Vou passar novamente por esse sentimento de perda.
Bergman, que tinha uma fixação pela morte e pela psicologia, me fez sentir uma espécie de vazio com a sua própria. Uma justa homenagem inconsciente.
Percebi que todos os caras que admiro e que ainda estão vivos vão morrer antes de mim. Se a "ordem natural das coisas" acontecer, vou acompanhar o enterro, sem ordem, de Woody Allen, do Veríssimo, do Chico Buarque. Vou passar novamente por esse sentimento de perda.
Bergman, que tinha uma fixação pela morte e pela psicologia, me fez sentir uma espécie de vazio com a sua própria. Uma justa homenagem inconsciente.
sexta-feira, 27 de julho de 2007
'O Pan engorda'
A frase-título, do Hélio de la Peña, do Casseta e Planeta, condiz inteiramente com a verdade. O ser humano retrocede se transformando num vegetal da família das samambaias, com raízes muito bem fincadas em frente à TV. Todos os esportes são bem-vindos, sem preconceito de origem, cor ou classe social. Neste momento, inclusive, a televisão passa aqui atrás a semi de futsal - uma de nossas medalhas certas.
Por isso, essa demora em abordar os resultados da natação nos Jogos Pan-americanos. É inegável que as seis medalhas de ouro, e as outras de prata e bronze, do Thiago impressionam. Também é um fato que ele é o mais completo nadador em atividade no Brasil. O apelido de "Phelps do Pan" é 100% factível. Mas, já que citamos o coisa-ruim, Thiago tem esse calo a superar. Suas provas são as mesmas de Phelps.
Há apenas duas que o americano nada e o brasileiro, não. Os 100 e os 200 borboleta. Exatamente as duas do Kaio. Ou seja, apesar de ter feito ótimos tempos, o paraibano, que foge completamente dos estereótipos do nadador, tem poucas chances.
O que deixa o Cesar Cielo como a nossa maior esperança de medalha de ouro em olimpíada. Em provas que o "nosso" outro calo, o Popov, reinou durante anos.
É quase uma licença poética.
Por isso, essa demora em abordar os resultados da natação nos Jogos Pan-americanos. É inegável que as seis medalhas de ouro, e as outras de prata e bronze, do Thiago impressionam. Também é um fato que ele é o mais completo nadador em atividade no Brasil. O apelido de "Phelps do Pan" é 100% factível. Mas, já que citamos o coisa-ruim, Thiago tem esse calo a superar. Suas provas são as mesmas de Phelps.
Há apenas duas que o americano nada e o brasileiro, não. Os 100 e os 200 borboleta. Exatamente as duas do Kaio. Ou seja, apesar de ter feito ótimos tempos, o paraibano, que foge completamente dos estereótipos do nadador, tem poucas chances.
O que deixa o Cesar Cielo como a nossa maior esperança de medalha de ouro em olimpíada. Em provas que o "nosso" outro calo, o Popov, reinou durante anos.
É quase uma licença poética.
quarta-feira, 25 de julho de 2007
Metafísica
- Moço, me dá um dinheiro pelamordiDeus!
- Eu sou ateu.
- Hein?
- Eu não acredito em deus.
- Mas, então, pelo amor do diabo!
- Essa sua frase não faz sentido.
- Moço, me dá um dinheirinho, to com fome!
- Por que eu deveria te dar dinheiro?
- Porque to com fome!
- Mas eu também to com fome. Logo, eu devo dar dinheiro para mim.
- Mas você tem que dar dinheiro para mim, você é rico!
- Enganou-se. Não sou rico. Nem tenho dinheiro. Tenho cartão de crédito. Aceita?
- Me dá um dinheiro... To com fome... PelamordiDeus!
- Olha, você tá exigindo de mais. Além de querer que eu acredite em deus, quer que eu o veja como um ser dotado de amor... Não dá...
- Moço, deixa pra lá. Vou pedir para outra pessoa.
- Tá bom. Passar bem.
- Passar bem? O que você quer dizer com isso?
- Eu sou ateu.
- Hein?
- Eu não acredito em deus.
- Mas, então, pelo amor do diabo!
- Essa sua frase não faz sentido.
- Moço, me dá um dinheirinho, to com fome!
- Por que eu deveria te dar dinheiro?
- Porque to com fome!
- Mas eu também to com fome. Logo, eu devo dar dinheiro para mim.
- Mas você tem que dar dinheiro para mim, você é rico!
- Enganou-se. Não sou rico. Nem tenho dinheiro. Tenho cartão de crédito. Aceita?
- Me dá um dinheiro... To com fome... PelamordiDeus!
- Olha, você tá exigindo de mais. Além de querer que eu acredite em deus, quer que eu o veja como um ser dotado de amor... Não dá...
- Moço, deixa pra lá. Vou pedir para outra pessoa.
- Tá bom. Passar bem.
- Passar bem? O que você quer dizer com isso?
segunda-feira, 9 de julho de 2007
Escritores
Fomos e voltamos de Paraty - quatro horas de distância da minha casa - num mesmo dia (sábado), só por causa da Flip. E obviamente valeu a pena. Infelizmente tive que retornar. Por mim, passaria a semana inteira na cidade que se transforma, nesse período, na sede de uma espécie de Rock in Rio das letras. E Paraty consegue ficar ainda mais bonita com tanta gente andando pelas suas ruas de pedra-paralelepípedo.
Assistimos a quatro mesas, todas as que pudemos. Não creio que uma tenha se destacado mais que as outras. A primeira tratava de Nelson Rodrigues, o qual me considero um ignorante, apesar de ser o dramaturgo a que mais peças assisti e de ter escrito uma pequena monografia; a segunda sobre os limites entre os formatos de ensaio e ficção - tema que me agrada muito, principalmente por ser fãzão de Borges; a terceira com um argentino (Alan Pauls) sobre como funcionaria o amor em seu romance "O Passado" - que apesar do tema específico e romântico foi bem interessante; e o último com dois grandes jornalistas sobre conflitos no Oriente Médio, terrorismo e essas coisas "sérias".
Cada uma com a sua característica, detalhes, momentos altos, frases impactantes, golpes certeiros. Jabor, em vídeo, falando sobre Nelson Rodrigues é uma aula- sempre (apesar de não gostar muito de sua pessoa física). Cesar Airas respondendo a uma pergunta boba sobre como é se sentir argentino e como está a Argentina hoje em dia foi um espetáculo. Ouvir Pauls junto com uma psicanalista transformar suas palestras, que tinha tudo para serem chatas, em algo interessante, foi, bem, interessantíssimo. E por último, acompanhar Robert Fisk, o maior jornalista de guerra vivo, mesmo com toda a sua coloração "vou salvar o mundo", foi tão empolgante como assistir a uma luta de boxe.
Mas o que mais me tocou, o que vou levar para sempre na memória, foi uma frase perdida, dita apenas para contextualizar toda uma idéia, não sendo nem de longe o interesse de nenhuma das mesas, principalmente porque era uma frase que respondia a uma dúvida que não permeia o cotidiano daqueles que subiram o palco, mas que, para mim, mal saído das fraldas literárias, e que talvez nunca saia mesmo, funcionou como um alento, um narcótico para a minha angústia cotidiana, algo como um raio de esperança, como uma iluminação. Leyla Perrone-Moisés, que participava da primeira mesa, sobre Nelson, disse, não exatamente com essas palavras, porque não consegui anotá-las, mas, com certeza, com essa intenção, que escritor seria aquele que processa as palavras.
Na hora fiz relação com aquela crônica do Veríssimo (a base da minha cadeia literária) sobre o gigolô das palavras e senti uma identificação e tranqüilidade. Soube, naquela hora, que havia os que eram dominados pelas palavras e os que as dominavam - e, sem nenhum traço de empáfia, pedantismo ou orgulho, apenas sentindo ser a verdade que me preenche, soube que eu era assim. As palavras, elas vêm para mim e eu faço o que eu quero. E não o inverso. Tenho uma relação de dominação.
Pela primeira vez, pude me considerar, com um pouco de indiferença, mas não esnobismo, com tranqüilidade, calma e, principalmente, segurança, um escritor. E olha que Airas (ou foi Pauls, o outro argentino?) disse que apenas um a cada mil "escritores" consegue sair das brumas da insignificância. Isso, realmente, não importa.
Assistimos a quatro mesas, todas as que pudemos. Não creio que uma tenha se destacado mais que as outras. A primeira tratava de Nelson Rodrigues, o qual me considero um ignorante, apesar de ser o dramaturgo a que mais peças assisti e de ter escrito uma pequena monografia; a segunda sobre os limites entre os formatos de ensaio e ficção - tema que me agrada muito, principalmente por ser fãzão de Borges; a terceira com um argentino (Alan Pauls) sobre como funcionaria o amor em seu romance "O Passado" - que apesar do tema específico e romântico foi bem interessante; e o último com dois grandes jornalistas sobre conflitos no Oriente Médio, terrorismo e essas coisas "sérias".
Cada uma com a sua característica, detalhes, momentos altos, frases impactantes, golpes certeiros. Jabor, em vídeo, falando sobre Nelson Rodrigues é uma aula- sempre (apesar de não gostar muito de sua pessoa física). Cesar Airas respondendo a uma pergunta boba sobre como é se sentir argentino e como está a Argentina hoje em dia foi um espetáculo. Ouvir Pauls junto com uma psicanalista transformar suas palestras, que tinha tudo para serem chatas, em algo interessante, foi, bem, interessantíssimo. E por último, acompanhar Robert Fisk, o maior jornalista de guerra vivo, mesmo com toda a sua coloração "vou salvar o mundo", foi tão empolgante como assistir a uma luta de boxe.
Mas o que mais me tocou, o que vou levar para sempre na memória, foi uma frase perdida, dita apenas para contextualizar toda uma idéia, não sendo nem de longe o interesse de nenhuma das mesas, principalmente porque era uma frase que respondia a uma dúvida que não permeia o cotidiano daqueles que subiram o palco, mas que, para mim, mal saído das fraldas literárias, e que talvez nunca saia mesmo, funcionou como um alento, um narcótico para a minha angústia cotidiana, algo como um raio de esperança, como uma iluminação. Leyla Perrone-Moisés, que participava da primeira mesa, sobre Nelson, disse, não exatamente com essas palavras, porque não consegui anotá-las, mas, com certeza, com essa intenção, que escritor seria aquele que processa as palavras.
Na hora fiz relação com aquela crônica do Veríssimo (a base da minha cadeia literária) sobre o gigolô das palavras e senti uma identificação e tranqüilidade. Soube, naquela hora, que havia os que eram dominados pelas palavras e os que as dominavam - e, sem nenhum traço de empáfia, pedantismo ou orgulho, apenas sentindo ser a verdade que me preenche, soube que eu era assim. As palavras, elas vêm para mim e eu faço o que eu quero. E não o inverso. Tenho uma relação de dominação.
Pela primeira vez, pude me considerar, com um pouco de indiferença, mas não esnobismo, com tranqüilidade, calma e, principalmente, segurança, um escritor. E olha que Airas (ou foi Pauls, o outro argentino?) disse que apenas um a cada mil "escritores" consegue sair das brumas da insignificância. Isso, realmente, não importa.
sexta-feira, 29 de junho de 2007
A bíblia neon
Quando, há dois anos, assisti ao show do Arcade Fire no Tim Festival, eles não eram exatamente a minha banda preferida. Achava suas melodias bonitas, mas faltava sangue no CD. Eles eram como fotos de crianças com bochechas rosadas. Fofos e de papel. Entretanto, sobre o palco, o quinteto (são só cinco mesmo?) fez de tudo para me convencer do contrário, que eu estava errado.
Foi espetacular, numa acepção que se aplicaria mesmo que o objetivo não fosse exatamente esse. Foi impressionante. Foi memorável ao ponto de até hoje lembrar detalhes da apresentação, como o grupo inteiro em pé em silêncio antes de começar a primeira música e, em seguida, começar apenas o bumbo e o coro acompanhando. Ou os caras subindo pelas instalações do palco. Excelente...
Bem, isso tudo para dizer que não consigo parar de ouvir o último álbum dos moços que saíram do Texas para se estabelecer em Montreal, "Neon Bible". Todo o punch que faltava a primeira incursão nos estúdios sobra nesse. Os arranjos, contudo, continuam lindos, impressionantemente lindos. De chorar. É como se os escutasse ao vivo, todos os dias, quando quisesse.
Arrisco, desde já, que é o melhor CD do ano.
Foi espetacular, numa acepção que se aplicaria mesmo que o objetivo não fosse exatamente esse. Foi impressionante. Foi memorável ao ponto de até hoje lembrar detalhes da apresentação, como o grupo inteiro em pé em silêncio antes de começar a primeira música e, em seguida, começar apenas o bumbo e o coro acompanhando. Ou os caras subindo pelas instalações do palco. Excelente...
Bem, isso tudo para dizer que não consigo parar de ouvir o último álbum dos moços que saíram do Texas para se estabelecer em Montreal, "Neon Bible". Todo o punch que faltava a primeira incursão nos estúdios sobra nesse. Os arranjos, contudo, continuam lindos, impressionantemente lindos. De chorar. É como se os escutasse ao vivo, todos os dias, quando quisesse.
Arrisco, desde já, que é o melhor CD do ano.
sexta-feira, 22 de junho de 2007
Ponte aérea
São Paulo tem inveja do Rio, como o estudante esforçado que, freqüentemente, perde uma oportunidade para a prima, uma menina bonita, simplesmente porque ela é, claro, bonita.
A bela menina, porém, não se preocupou com o tempo. Viveu o momento como se fosse o último, se transformou em ícone e se desgastou. O estudante se formou, arrumou emprego e ganha um bom dinheiro - no ramo de serviços. É sempre atencioso, cordato, organizado. Não adianta muito.
Apesar de todos os esforços, a menina-mulher continua a mais famosa da família, enquanto o rapaz é lembrado, também, pela sujeira e feiúra.
Ultimamente, contudo, o rapaz se tornou o cosmopolita. Com amigos taxistas italianos, garçons árabes, jornalistas nordestinos. A menina-moça continua deitada em berço esplendido, aguardando que as modificações caiam do céu.
Ela continua interona, mas anos de desajuste a transformaram em perigosa - ou, ao menos - assustadora. Continua com o gingado, a manemolência, as curvas, enquanto ele grisalhou, colocou um pulôver cinza para escutar algo eletrônico, noturno, quadrado.
Ele gosta de carros, ela, praia. Ele vai ao shopping, ela, ao samba. Ele trabalha, ela ri (dele). Ele continua completamente apaixonado - por ela; ela, também.
A bela menina, porém, não se preocupou com o tempo. Viveu o momento como se fosse o último, se transformou em ícone e se desgastou. O estudante se formou, arrumou emprego e ganha um bom dinheiro - no ramo de serviços. É sempre atencioso, cordato, organizado. Não adianta muito.
Apesar de todos os esforços, a menina-mulher continua a mais famosa da família, enquanto o rapaz é lembrado, também, pela sujeira e feiúra.
Ultimamente, contudo, o rapaz se tornou o cosmopolita. Com amigos taxistas italianos, garçons árabes, jornalistas nordestinos. A menina-moça continua deitada em berço esplendido, aguardando que as modificações caiam do céu.
Ela continua interona, mas anos de desajuste a transformaram em perigosa - ou, ao menos - assustadora. Continua com o gingado, a manemolência, as curvas, enquanto ele grisalhou, colocou um pulôver cinza para escutar algo eletrônico, noturno, quadrado.
Ele gosta de carros, ela, praia. Ele vai ao shopping, ela, ao samba. Ele trabalha, ela ri (dele). Ele continua completamente apaixonado - por ela; ela, também.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
Adiós, amigos
O ultimíssimo show dos Hermanos, na Fundição, foi o mais diferente de todos que eu presenciei. E olha que, desde uma longíqua apresentação na Loud, no Cine Íris, após terem lançado o "Bloco do eu sozinho", já fui em pelo menos um show a cada novo disco. Ou seja, numa conta por baixo, esse foi o quinto.
Não me comparo com outros fanáticos - conheço quem foi três vezes só na turnê do "4", por exemplo -, mas sei mais ou menos como funciona as cabeças de Camelo, Amarante, Medina e Barba, sobre o palco. E posso assegurar, essa foi diferente.
Claro, nenhuma das apresentações é igual a outra. Eles sempre mudam de repertório por causa do público que os assiste, do disco em questão, do tamanho do palco e do tempo com a mesma roupagem. Mas é nesse ponto que eu quero chegar: eles são conhecidos por não serem óbvios nas apresentações. Ou seja, "Ana Júlia" não é exatamente um top ten ao vivo. Além disso, eles não optam, necessariamente, por músicas mais agitadas, para animar o público cativo.
Funciona como se eles, normalmente, jogassem contra a vontade do público, não se deixando levar pelas facilidades. Não que eles sejam marrentos - até são - mas o caso é lutar contra a morosidade, a preguiça e o lugar-comum. Por isso, inclusive, eles são e serão lembrados para sempre.
MAS no show, eles estavam, como diria o Amarante, sentimentais. Camelo, vestido de um not-cool terno, pulava de um lado para outro, dava cabeçadas amigáveis nos outros componentes, se enrolava no fios da guitarra. Mas o sentimendo que o fim estava chegando, a nostalgia do que estava terminando, ficou mais evidente com a escolha das músicas.
Eles tentaram agradar o público. Tocaram vários sucessos, músicas conhecidas e poucas baladas. E não pareceu que eles estavam se curvando ao gosto popular(esco), mas uma comunhão, um "por que não tocar 'Pierrot' e agradar a multidão que grita?". Pareciam que, desta vez, os meninos estavam em uma festa, uma jam session, algo familiar, particular, algo entre hermanos.
Não me comparo com outros fanáticos - conheço quem foi três vezes só na turnê do "4", por exemplo -, mas sei mais ou menos como funciona as cabeças de Camelo, Amarante, Medina e Barba, sobre o palco. E posso assegurar, essa foi diferente.
Claro, nenhuma das apresentações é igual a outra. Eles sempre mudam de repertório por causa do público que os assiste, do disco em questão, do tamanho do palco e do tempo com a mesma roupagem. Mas é nesse ponto que eu quero chegar: eles são conhecidos por não serem óbvios nas apresentações. Ou seja, "Ana Júlia" não é exatamente um top ten ao vivo. Além disso, eles não optam, necessariamente, por músicas mais agitadas, para animar o público cativo.
Funciona como se eles, normalmente, jogassem contra a vontade do público, não se deixando levar pelas facilidades. Não que eles sejam marrentos - até são - mas o caso é lutar contra a morosidade, a preguiça e o lugar-comum. Por isso, inclusive, eles são e serão lembrados para sempre.
MAS no show, eles estavam, como diria o Amarante, sentimentais. Camelo, vestido de um not-cool terno, pulava de um lado para outro, dava cabeçadas amigáveis nos outros componentes, se enrolava no fios da guitarra. Mas o sentimendo que o fim estava chegando, a nostalgia do que estava terminando, ficou mais evidente com a escolha das músicas.
Eles tentaram agradar o público. Tocaram vários sucessos, músicas conhecidas e poucas baladas. E não pareceu que eles estavam se curvando ao gosto popular(esco), mas uma comunhão, um "por que não tocar 'Pierrot' e agradar a multidão que grita?". Pareciam que, desta vez, os meninos estavam em uma festa, uma jam session, algo familiar, particular, algo entre hermanos.
sexta-feira, 1 de junho de 2007
Lost dos Dragões
Com o último capítulo da terceira temporada, começamos a nos afogar com tantas e variadas especulações sobre "Lost". Mas, como não gosto de ler spoilers, fico órfão até fevereiro de 2008, quando se inicia a próxima season. Claro que ainda não consegui me desintoxicar de Jack, Sawyer, Kate e cia. ltda. Então, imaginei uma seguinte situação:
"Lost" é uma versão "adulta" de "Caverna dos Dragões". Se não, vejamos. O espectador do desenho animado é, praticamente, o mesmo da série de TV, apenas mais velho. "Lost" e "Caverna dos Dragões"abusam de idéias fantásticas, de mundos secretos - "Caverna dos Dragões" com mais seres irreais e "Lost" mais violência -, já foram interpretados como uma metáfora para a morte e o purgatório e, principalmente, em ambos os casos os protagonistas querem sair de onde estão e voltar para o "mundo real".
Claro que "Lost" tem mais complexidade, há mais personagens, situações mais impressionantes. Devemos levar em conta, porém, que mais de 20 anos se passaram, os roteiros precisam se adaptar às novas realidades, além de a série ser focada num público mais velho. Mas não custa nada fazer uma brincadeira de quem é quem na ilha e no mundo.
- Jack, claro, é Hank - líder nato que tem lidar com a própria insegurança.
- Sawyer seria Eric - o anti-herói clássico, que foge das regras, tenta caçoar sempre das idéias de Jack / Hank. Com o tempo, Eric ficou mais sarcástico e menos bobo.
- Kate - Sheila - arrasta uma asa para Jack/Hank. No desenho não cabia um triângulo amoroso porque, sei não...
- Hurley - Presto - o escape cômico.
- Sayid - Bobby - os bárbaros.
Dos principais de "Caverna dos Dragões" só falta o correspondente para Diana, a acrobata, que não protagonizou nenhum episódio, que eu me lembre. Porque, até para Uni, aquele unicórnio mala do desenho, existe o seu paralelo: Jonh Locke, que diz pertencer à ilha e que faz de tudo para ninguém ir embora de lá.
Será que os roteiristas de "Lost" pensaram nisso?
"Lost" é uma versão "adulta" de "Caverna dos Dragões". Se não, vejamos. O espectador do desenho animado é, praticamente, o mesmo da série de TV, apenas mais velho. "Lost" e "Caverna dos Dragões"abusam de idéias fantásticas, de mundos secretos - "Caverna dos Dragões" com mais seres irreais e "Lost" mais violência -, já foram interpretados como uma metáfora para a morte e o purgatório e, principalmente, em ambos os casos os protagonistas querem sair de onde estão e voltar para o "mundo real".
Claro que "Lost" tem mais complexidade, há mais personagens, situações mais impressionantes. Devemos levar em conta, porém, que mais de 20 anos se passaram, os roteiros precisam se adaptar às novas realidades, além de a série ser focada num público mais velho. Mas não custa nada fazer uma brincadeira de quem é quem na ilha e no mundo.
- Jack, claro, é Hank - líder nato que tem lidar com a própria insegurança.
- Sawyer seria Eric - o anti-herói clássico, que foge das regras, tenta caçoar sempre das idéias de Jack / Hank. Com o tempo, Eric ficou mais sarcástico e menos bobo.
- Kate - Sheila - arrasta uma asa para Jack/Hank. No desenho não cabia um triângulo amoroso porque, sei não...
- Hurley - Presto - o escape cômico.
- Sayid - Bobby - os bárbaros.
Dos principais de "Caverna dos Dragões" só falta o correspondente para Diana, a acrobata, que não protagonizou nenhum episódio, que eu me lembre. Porque, até para Uni, aquele unicórnio mala do desenho, existe o seu paralelo: Jonh Locke, que diz pertencer à ilha e que faz de tudo para ninguém ir embora de lá.
Será que os roteiristas de "Lost" pensaram nisso?
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Os filmes oníricos de Gondry
O novo filme do Michel Gondry, "The Science of the sleep", repete algumas idéias da segunda incursão do francês no longa-metragem - "Eternal sunshine of the spotless mind" - como o ambiente onírico, um protagonista que dorme, imagens bem fantasiosas e personagens secundários cools. Quem não se importa muito com o diretor dos filmes vai perceber as semelhanças entre um e outro, sem dúvida. (O primeiro filme dele - "Human Nature" - parte de uma premissa bem diferente.)
As diferenças, entretanto, me chamaram mais a atenção. Se "Eternal sunshine" é uma produção cara e americana, com direito a Jim Carey no papel principal e roteiro do Kaufman, "The Science..." é francês - até conta com dinheiro do braço independente da Warner - até o último biquinho. Mesmo que se fale inglês, na maioria do tempo e espanhol (um pouquinho), Gondry quis filmar uma cidade francesa, hábitos dos franceses, os franceses.
Se ele opta por Gael García Bernal na dianteira do elenco é porque ele é o melhor rosto fora de hollywood na sua faixa etária - se o personagem fosse um pouco mais velho, aposto que o posto seria do Javier Bardem.
Mas a maior diferença fica, realmente, nos cuidados com a produção e o (mal)cuidado com o roteiro. Em "Science...", há efeitos especiais com rolos de papel higiênico (!). Tudo bem que há um contexto, mas para as massinhas, não. As mãos enormes passam, as orelhas de gato também, mas a TV educativa... hum... Não. Nem o pônei. Depois dos efeitos de "Eternal sunshine..." fica parecendo algo caseiro, quase amador.
Já o roteiro, bem, podem falar o que quiserem dele, mas Charlie Kaufman, inegavelmente, é o mais conhecido roteista de hoje em dia. E olha que ele não fez nenhum blockbuster, pelo contrário. Seus filmes têm sempre uma ligação, você os reconhece como de um mesmo sujeito, mesmo quando os diretores variam de um Spike Jonze até um George Clooney. O cara tem um cuidado com o texto, com a informação completa que falta no filme.
Curiosamente é o mesmo sentimento que se tem ao ver alguns Truffauts, por exemplo. O longa inteiro é lindo, maravilhoso, mas, ao fim, você quase fala: acabou? Talvez Gondry quisesse fazer a sua versão do homem onírico, raciocinando que a anterior era muito, digamos, norte-americana-kaufmaniana. "Science..." vale muito ser visto, mas eu gostei mais da "versão" anterior porque junta o melhor de dois mundos. A direção inventiva do francês com a meticulosidade - e o dinheiro - do americano.
As diferenças, entretanto, me chamaram mais a atenção. Se "Eternal sunshine" é uma produção cara e americana, com direito a Jim Carey no papel principal e roteiro do Kaufman, "The Science..." é francês - até conta com dinheiro do braço independente da Warner - até o último biquinho. Mesmo que se fale inglês, na maioria do tempo e espanhol (um pouquinho), Gondry quis filmar uma cidade francesa, hábitos dos franceses, os franceses.
Se ele opta por Gael García Bernal na dianteira do elenco é porque ele é o melhor rosto fora de hollywood na sua faixa etária - se o personagem fosse um pouco mais velho, aposto que o posto seria do Javier Bardem.
Mas a maior diferença fica, realmente, nos cuidados com a produção e o (mal)cuidado com o roteiro. Em "Science...", há efeitos especiais com rolos de papel higiênico (!). Tudo bem que há um contexto, mas para as massinhas, não. As mãos enormes passam, as orelhas de gato também, mas a TV educativa... hum... Não. Nem o pônei. Depois dos efeitos de "Eternal sunshine..." fica parecendo algo caseiro, quase amador.
Já o roteiro, bem, podem falar o que quiserem dele, mas Charlie Kaufman, inegavelmente, é o mais conhecido roteista de hoje em dia. E olha que ele não fez nenhum blockbuster, pelo contrário. Seus filmes têm sempre uma ligação, você os reconhece como de um mesmo sujeito, mesmo quando os diretores variam de um Spike Jonze até um George Clooney. O cara tem um cuidado com o texto, com a informação completa que falta no filme.
Curiosamente é o mesmo sentimento que se tem ao ver alguns Truffauts, por exemplo. O longa inteiro é lindo, maravilhoso, mas, ao fim, você quase fala: acabou? Talvez Gondry quisesse fazer a sua versão do homem onírico, raciocinando que a anterior era muito, digamos, norte-americana-kaufmaniana. "Science..." vale muito ser visto, mas eu gostei mais da "versão" anterior porque junta o melhor de dois mundos. A direção inventiva do francês com a meticulosidade - e o dinheiro - do americano.
sexta-feira, 18 de maio de 2007
Fim da inocência
Não é possível viver sem ter contato com informações. Claro que "resumo" aos meios urbanos, onde a quantidade de publicidade, jornais, TVs, sites, rádios, cartas, e-mails e um infinito etc. é algo extremamente banalizado. As próprias piadas são referenciais. Os apelidos lembram algo da - outrora chamada - indústria cultural. E claro que isso é uma obviedade.
Nunca foi possível escrever algo impunemente. Sempre houve algo anterior, que remetia a essa mesma idéia. Não existe, portanto, a novidade. Mas, sem ter necessariamente contato com a idéia anterior, o artista criava impunemente, inocentemente.
Hoje, não há mais inocência. Não tem como produzir algo sem passar pela prova do "já vi/li". Somos produtos de uma era em que, mais que tudo já tenha sido contado, todos já sabem que tudo foi contado. Nada é novidade para ninguém. Nos repetimos, como sempre fizemos, mas, então, ninguém pode dizer que não conhece.
Daí nasce a metalinguagem, como algo intrínseco ao nosso tempo. Descontrução do estabelecido para montar em termos completamente diferentes. Um chute: normalmente acontece em eras saturadas - lembrai do Quixote e da sua paródia de romances de cavalaria. Estamos NA era da saturação. Tudo perde a validade muito rapidamente.
Deve-se ficar preso nessa teia ou lutar por algo novo, como por uma utopia? Como enfrentar o desestímulo?
Nunca foi possível escrever algo impunemente. Sempre houve algo anterior, que remetia a essa mesma idéia. Não existe, portanto, a novidade. Mas, sem ter necessariamente contato com a idéia anterior, o artista criava impunemente, inocentemente.
Hoje, não há mais inocência. Não tem como produzir algo sem passar pela prova do "já vi/li". Somos produtos de uma era em que, mais que tudo já tenha sido contado, todos já sabem que tudo foi contado. Nada é novidade para ninguém. Nos repetimos, como sempre fizemos, mas, então, ninguém pode dizer que não conhece.
Daí nasce a metalinguagem, como algo intrínseco ao nosso tempo. Descontrução do estabelecido para montar em termos completamente diferentes. Um chute: normalmente acontece em eras saturadas - lembrai do Quixote e da sua paródia de romances de cavalaria. Estamos NA era da saturação. Tudo perde a validade muito rapidamente.
Deve-se ficar preso nessa teia ou lutar por algo novo, como por uma utopia? Como enfrentar o desestímulo?
quarta-feira, 16 de maio de 2007
Interrogações
Escrever para quê? Qual é a intenção? Por que manter um local onde se coloca opiniões, que não foram pedidas, sobre assuntos os mais diversos? Quem elege os realmente aptos a opinar sobre qualquer coisa?
Em outro aspecto: por que escrever? Para usar o espaço como um divã virtual? Para exercer a capacidade de expressão? Porque é legal? Porque se ambiciona algo melhor? Porque inveja outros que conseguem? Porque precisa dialogar com as próprias palavras, escritas, e perceber, friamente, o que elas realmente querem dizer? Porque almeja um resultado estético, algo intocável, volúvel, relativo como a "arte"?
E quando não há vontade alguma: deve-se insistir até conseguir umas linhas rascunhadas? Deve-se esperar um pouco, ter paciência, até que a vontade volte? E se não voltar? E se nunca existiu? E se existiu e agora, sem escrever há muito, se acomodar e desistir dos sonhos para viver algo mais cotidiano? (Aliás, viver algo mais cotidiano é uma vergonha para alguém?)
Será que se deve, ainda, alimentar um sonho juvenil, uma crença, algo inanimado, irracional, baseado em nada concreto, mesmo quando a realidade diária mostra que não é exatamente como pensado? Opta-se por uma adaptação, insistência ou desistência?
Ah, as interrogações do meu presente.
Em outro aspecto: por que escrever? Para usar o espaço como um divã virtual? Para exercer a capacidade de expressão? Porque é legal? Porque se ambiciona algo melhor? Porque inveja outros que conseguem? Porque precisa dialogar com as próprias palavras, escritas, e perceber, friamente, o que elas realmente querem dizer? Porque almeja um resultado estético, algo intocável, volúvel, relativo como a "arte"?
E quando não há vontade alguma: deve-se insistir até conseguir umas linhas rascunhadas? Deve-se esperar um pouco, ter paciência, até que a vontade volte? E se não voltar? E se nunca existiu? E se existiu e agora, sem escrever há muito, se acomodar e desistir dos sonhos para viver algo mais cotidiano? (Aliás, viver algo mais cotidiano é uma vergonha para alguém?)
Será que se deve, ainda, alimentar um sonho juvenil, uma crença, algo inanimado, irracional, baseado em nada concreto, mesmo quando a realidade diária mostra que não é exatamente como pensado? Opta-se por uma adaptação, insistência ou desistência?
Ah, as interrogações do meu presente.
terça-feira, 15 de maio de 2007
Monocórdico
Ultimamente não consigo conversar muito tempo com meus amigos que não acompanham, como eu. Eles falam, falam, falam, e eu não tenho pouco interesse. Para mim, todos os assuntos são desimportantes, com a exceção de um: "Lost". E, claro que quem não estiver no último episódio da série, que passa toda a quarta-feira nos EUA, fica ultrapassado. Culpa das constantes mutações que acontecem de semana para semana na série que nem é a mais vista hoje nos EUA - quem entende os norte-americanos?
Por esses dias, em tudo o que eu leio, procuro uma ligaçã0, ou uma forma de explicar os mistérios da ilha. Se baixo filmes, deixo a quarta-feira livre para começar o download do novo capítulo. Se chega sexta à noite e pinta um convite para sair e beber com uns camaradas, penso que nada vai ser melhor que chegar em casa e assistir a mais 40 minutos das histórias de Jack, Sawyer, Locke, Sayid e os Outros.
Imagino que esse frenesi não seja novo para outras pessoas. Mas, para mim, que nunca tive TV a cabo, jamais acompanhei uma novela (salvo "Que rei sou eu?" e "Vale Tudo"), que acha os produtos americanos enlatados insípidos, é uma surpresa. Lembro vagamente que à época de "Twins Peaks" havia uma exaltação parecida. Gente viciada na série que passava por verdadeiras síndromes de abstinência durante a semana e quebrava a cabeça tentando descobrir o que aconteceu, por qe aconteceu e o que diabo era aquele anãozinho que dançava no cabaré. Coisas de Mr. David Lynch. Como eu não me lembro direito desse período - não estou tão velho assim, vai... - para mim, é tudo novidade.
Curioso que eu tentei experimentar outras drogas americanas. Assisti à primeira temporada inteira de "24 horas" e a uns poucos episódios da segunda; vi todos os episódios do primeiro ano de "Seinfield"; conferi cinco capítulos iniciais da nova febre, "Heroes" e nada. Nada bateu, nenhum funcionou. A única série que dá um pouco de onda foge dos padrões americanófilos - apesar de ser falado em inglês, da Inglaterra: "Roma". Principalmente pelo apanhado histórico, pela uma moral toda própria e pelos personagens mais sacanas / espertos / políticos que já vi na TV.
Com esse meu vício, atitudes em outros tempos impensáveis estão se tornando normais. Comprei uma TV nova, não vou ao cinema há muito tempo, e um dos meus sites preferidos na atualidade é o blog do Carlão, meu camarada.
Por esses dias, em tudo o que eu leio, procuro uma ligaçã0, ou uma forma de explicar os mistérios da ilha. Se baixo filmes, deixo a quarta-feira livre para começar o download do novo capítulo. Se chega sexta à noite e pinta um convite para sair e beber com uns camaradas, penso que nada vai ser melhor que chegar em casa e assistir a mais 40 minutos das histórias de Jack, Sawyer, Locke, Sayid e os Outros.
Imagino que esse frenesi não seja novo para outras pessoas. Mas, para mim, que nunca tive TV a cabo, jamais acompanhei uma novela (salvo "Que rei sou eu?" e "Vale Tudo"), que acha os produtos americanos enlatados insípidos, é uma surpresa. Lembro vagamente que à época de "Twins Peaks" havia uma exaltação parecida. Gente viciada na série que passava por verdadeiras síndromes de abstinência durante a semana e quebrava a cabeça tentando descobrir o que aconteceu, por qe aconteceu e o que diabo era aquele anãozinho que dançava no cabaré. Coisas de Mr. David Lynch. Como eu não me lembro direito desse período - não estou tão velho assim, vai... - para mim, é tudo novidade.
Curioso que eu tentei experimentar outras drogas americanas. Assisti à primeira temporada inteira de "24 horas" e a uns poucos episódios da segunda; vi todos os episódios do primeiro ano de "Seinfield"; conferi cinco capítulos iniciais da nova febre, "Heroes" e nada. Nada bateu, nenhum funcionou. A única série que dá um pouco de onda foge dos padrões americanófilos - apesar de ser falado em inglês, da Inglaterra: "Roma". Principalmente pelo apanhado histórico, pela uma moral toda própria e pelos personagens mais sacanas / espertos / políticos que já vi na TV.
Com esse meu vício, atitudes em outros tempos impensáveis estão se tornando normais. Comprei uma TV nova, não vou ao cinema há muito tempo, e um dos meus sites preferidos na atualidade é o blog do Carlão, meu camarada.
sábado, 21 de abril de 2007
Histórias
Vi esta semana, com anos de atraso, "Big fish", numa versão dublada em espanhol*. O filme de Tim Burton é ótimo, divertidíssimo, mas não uma obra-prima. Aborda um tema que me é extremamente interessante e que pode ser resumido na idéia de "contar histórias".
De maneira geral, o filme mostra a briga entre um pai e seu filho porque o velho contaria muitas mentiras sobre a vida própria e a em comum. O tom é de fábula, ou melhor, de fantasia. O protagonista, o pai ainda jovem vivido por Ewan McGregor, é otimista, corajoso, romântico e extremamente sedutor. Ao relatar uma história, consegue a atenção das pessoas em sua volta. E, apesar de viver como um "simples" vendedor de quinquilharias, narra a sua trajetória como se fosse um herói.
Pausa para dizer que Borges - será que algum dia vou citar outra pessoa? - dizia que o conto, a estrutura narrativa curta, é o arcabouço literário por definição. Porque, desde que o hominídeo conseguiu grunhir e travar comunicação com outro sujeito parecido com ele, as pequenas histórias existem, sejam ficções, não-ficções ou qualquer outro nome que você possa / queira dar.
O argentino dizia que o conto sintetizava todas as outras formas narrativas. É possível resumir um romance em poucas palavras, por exemplo. Também é viável narrar / interpretar uma poesia, ou um filme, ou qualquer outro tipo de arte. Por isso ele - Borges - sugeria que os textos deveriam ter uma tradição oral - muito influenciado, claro, pelo fato de ele ter ficado cego muito novo.
Juntando as duas informações, pode-se perceber que a literatura sempre existirá como forma de contar uma história - ou a mesma história, para ficarmos em outra citação borgeana. E que o homem sempre vai se interessar em ouvi-las, lê-las, contá-las.
---
* a internet tem dessas coisas. Me forneceu filmes como "The science of the sleep", do Gondry, e "Tristam Shandy", do Winterbottom, anos antes de alguma distribuidora acordar; e só uma versão dublada em espanhol do americaníssimo "Big Fish".
De maneira geral, o filme mostra a briga entre um pai e seu filho porque o velho contaria muitas mentiras sobre a vida própria e a em comum. O tom é de fábula, ou melhor, de fantasia. O protagonista, o pai ainda jovem vivido por Ewan McGregor, é otimista, corajoso, romântico e extremamente sedutor. Ao relatar uma história, consegue a atenção das pessoas em sua volta. E, apesar de viver como um "simples" vendedor de quinquilharias, narra a sua trajetória como se fosse um herói.
Pausa para dizer que Borges - será que algum dia vou citar outra pessoa? - dizia que o conto, a estrutura narrativa curta, é o arcabouço literário por definição. Porque, desde que o hominídeo conseguiu grunhir e travar comunicação com outro sujeito parecido com ele, as pequenas histórias existem, sejam ficções, não-ficções ou qualquer outro nome que você possa / queira dar.
O argentino dizia que o conto sintetizava todas as outras formas narrativas. É possível resumir um romance em poucas palavras, por exemplo. Também é viável narrar / interpretar uma poesia, ou um filme, ou qualquer outro tipo de arte. Por isso ele - Borges - sugeria que os textos deveriam ter uma tradição oral - muito influenciado, claro, pelo fato de ele ter ficado cego muito novo.
Juntando as duas informações, pode-se perceber que a literatura sempre existirá como forma de contar uma história - ou a mesma história, para ficarmos em outra citação borgeana. E que o homem sempre vai se interessar em ouvi-las, lê-las, contá-las.
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* a internet tem dessas coisas. Me forneceu filmes como "The science of the sleep", do Gondry, e "Tristam Shandy", do Winterbottom, anos antes de alguma distribuidora acordar; e só uma versão dublada em espanhol do americaníssimo "Big Fish".
terça-feira, 10 de abril de 2007
Enciclopédia
Talvez o único personagem que Borges criou e se repetiu em mais de um único texto - com a exceção óbvia do personagem Borges, claro - é o investigador H. Busto Domecq. O sujeito, diferentemente dos outros faros-finos, investiga crimes literários. Claro que os "crimes literários" aí são escolhidos por Borges e Bioy Casares - ou outro autor de Domecq. Lembro de um sujeito que quer descrever completamente os objetos e perde a vida inteira numa colher (era colher?) Também não é novidade que o argentino tinha uma fascinação por enciclopédias.
Mas, por que eu estou escrevendo isso? Sei lá. Aproveitem.
Mas, por que eu estou escrevendo isso? Sei lá. Aproveitem.
sábado, 7 de abril de 2007
Distribuição
Publiquei o "A primeira pessoa" no overmundo. Por mais incrível que pareça, em algum momento ele se tornou o link mais votado. Por sorte, registrei o momento.
domingo, 1 de abril de 2007
O melhor de todos os tempos
Dorrit Harrazim escreveu boa parte do que eu penso sobre o Michael Phelps n'O Globo - link indisponível depois da reformulação. Ela só teve a desvantagem de escrever quando o garoto tinha "só" seis ouro. Agora, ele já tem o sétimo. Com direito a seis recordes mundiais - se não me falha a memória, que normalmente falha. Só não conseguiu a oitava medalha porque, na eliminatória do 4x100 medley, o vice e recordista mundial dos 100m borboleta, Ian Crocker, queimou.
Fica a pergunta: teria sido uma espécie de vingança de Crocker contra Phelps, porque o melhor-de-todos-os-tempos havia vencido a prova dele? Ele perderia uma medalha de ouro, mas Phelps não bateria o recorde de sete ouros em uma mesma grande competição, como Olimpíada e/ou Mundial, feito só alcançado pelo Spitz em 1972 (com direito aos sete recordes mundiais, se não me falha... você sabe.)
Deixando a teoria da conspiração de lado, Harrazim argumenta brilhantemente, como sempre, que Phelps não precisava de números para ser considerado o melhor de todos os tempos. Não foram os números que fizeram Michael Jordan ser o melhor no basquete - apesar de ter colaborado bastante.
Phelps seria o melhor porque, escreve Harrazim, teria o melhor estilo em todos os estilos. Seria o nadador polivalente, numa época de especialistas. O nadador de medley por excelência, o sujeito que é tão bom em tudo, que quebra a máxima de não ser o melhor em nada. Phelps, parafraseando Romário, o melhor-de-todos-os-tempos na grande área, é o cara.
Felizmente ele não nada os 100m livre, o que mantem a esperança para o César Cielo Filho, vulgo cabelos louros. Já Thiago Pereira... Bem... Podemos nos contentar com, considerando a evolução do garoto, a medalha de prata.
Fica a pergunta: teria sido uma espécie de vingança de Crocker contra Phelps, porque o melhor-de-todos-os-tempos havia vencido a prova dele? Ele perderia uma medalha de ouro, mas Phelps não bateria o recorde de sete ouros em uma mesma grande competição, como Olimpíada e/ou Mundial, feito só alcançado pelo Spitz em 1972 (com direito aos sete recordes mundiais, se não me falha... você sabe.)
Deixando a teoria da conspiração de lado, Harrazim argumenta brilhantemente, como sempre, que Phelps não precisava de números para ser considerado o melhor de todos os tempos. Não foram os números que fizeram Michael Jordan ser o melhor no basquete - apesar de ter colaborado bastante.
Phelps seria o melhor porque, escreve Harrazim, teria o melhor estilo em todos os estilos. Seria o nadador polivalente, numa época de especialistas. O nadador de medley por excelência, o sujeito que é tão bom em tudo, que quebra a máxima de não ser o melhor em nada. Phelps, parafraseando Romário, o melhor-de-todos-os-tempos na grande área, é o cara.
Felizmente ele não nada os 100m livre, o que mantem a esperança para o César Cielo Filho, vulgo cabelos louros. Já Thiago Pereira... Bem... Podemos nos contentar com, considerando a evolução do garoto, a medalha de prata.
sexta-feira, 23 de março de 2007
Liberdade, enfim
Depois de umas três semanas trabalhando 12, 13, 14 até 16 horas por dia, consegui sobreviver.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
Além de "Platoon" e "A queda"
"Cartas de Iwo Jima" é um filmão. Daqueles que mexem com você antes, durante e depois. Me lembrou "Platoon", de Oliver Stone, mas é maior. Além de contar a história da perda da inocência (no caso de um padeiro), mostra como um general tem que convencer um povo a negar seus princípios - no caso, convencer os japoneses a não cometer suicídio quando perder uma batalha. Pinta um retrato realista (o que seria isso?) da II Grande Guerra visto pelo ângulo do perdedor, assim como fez "A queda". Mas as semelhanças páram por aí.
Eastwood, americano, republicano, descendente de John Ford, ex-caubói das telas, contou a versão japonesa de uma das maiores vitórias norte-americanas na IIGG. Não tem dó, piedade ou condenscendência. Japoneses não são bons nem maus. Norte-americanos, muito menos. Maniqueismo passa longe.
Melhores momentos (se não viu o filme, pare aqui) são aqueles da carta do americano - mesmo que dê uma certa valorização logo depois. E do assassinato dos prisioneiros japoneses. Excepcional. Estava aí a decisão entre um filme bom e um excelente. E Clint Eastwood fez a segunda opção.
Eastwood, americano, republicano, descendente de John Ford, ex-caubói das telas, contou a versão japonesa de uma das maiores vitórias norte-americanas na IIGG. Não tem dó, piedade ou condenscendência. Japoneses não são bons nem maus. Norte-americanos, muito menos. Maniqueismo passa longe.
Melhores momentos (se não viu o filme, pare aqui) são aqueles da carta do americano - mesmo que dê uma certa valorização logo depois. E do assassinato dos prisioneiros japoneses. Excepcional. Estava aí a decisão entre um filme bom e um excelente. E Clint Eastwood fez a segunda opção.
notas carnavalescas
- O samba Beija-Flor deste ano é um plágio do jingle do Eymael. Aquele do "Ey, Ey, Eymael, um democrata cristão...."
- Eu odeio carnaval. Acho essa ditadura da felicidade nociva. Mas a comissão de frente da Mangueira - que fui obrigado a ver por causa do trabalho - bem legal.
- Eu odeio carnaval. Acho essa ditadura da felicidade nociva. Mas a comissão de frente da Mangueira - que fui obrigado a ver por causa do trabalho - bem legal.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
Jornalismo sensacional
Para que serve o jornalismo? Como eu não fiz aquele juramento na formatura, não sei qual é a resposta oficial, mas suspeito que tenha a ver com, unicamente, audiência, seja ela na vendagem de exemplares ou no número de espectadores.
Se não, vejamos um caso das semanas passadas, só para ficar num exemplo à mão: o assassinato do milionário da Mega-Sena. É uma ótima notícia. Contudo, analisando o fato de perto, resolver esse caso, noticiar a prisão da viúva, elucidar quem apertou o gatilho, descobrir que foi o mandante, conhecer todo o plano só serve para a família de Renné Senna, mais ninguém. Claro que interessa a todo mundo, daí ela ser uma ótima notícia. Mas, na prática, ninguém vai aprender a ganhar R$ 52 milhões na loteria, se proteger de atentados contra a vida, escolher melhor as namoradas. O fato é que acompanhamos o desenrolar das investigações como quem assiste a uma novela. Elegemos o vilão - ou a vilã -, e procuramos os mocinhos para torcer por.
Não entendam o parágrafo anterior como uma crítica aos costumes jornalísticos. Não sou ingênuo o suficiente para afirmar que a melhor notícia do dia deveria ser algo que influenciasse na vida de todos os cidadãos, como, sei lá, o movimento em Brasília. Isso até é notícia, mas é considerado chato - e é, realmente.
Nem quero falar sobre a "espetacularização do jornalismo", porque alguém já disse isso antes e eu não me lembro quem.
É algo mais pé no chão. Pensar no que é o jornalismo, hoje em dia. Para que serve. Acho que serve para vender jornal. Ou, em outras palavras, entreter. Aliás, exagerando um pouco a mão, sempre serviu, apenas o conceito de diversão era bem diferente do de agora. Provavelmente, a única regra ainda válida para o jornalismo e que, talvez, servirá para sempre é a de que notícia é quando o homem morde o cachorro.
Se não, vejamos um caso das semanas passadas, só para ficar num exemplo à mão: o assassinato do milionário da Mega-Sena. É uma ótima notícia. Contudo, analisando o fato de perto, resolver esse caso, noticiar a prisão da viúva, elucidar quem apertou o gatilho, descobrir que foi o mandante, conhecer todo o plano só serve para a família de Renné Senna, mais ninguém. Claro que interessa a todo mundo, daí ela ser uma ótima notícia. Mas, na prática, ninguém vai aprender a ganhar R$ 52 milhões na loteria, se proteger de atentados contra a vida, escolher melhor as namoradas. O fato é que acompanhamos o desenrolar das investigações como quem assiste a uma novela. Elegemos o vilão - ou a vilã -, e procuramos os mocinhos para torcer por.
Não entendam o parágrafo anterior como uma crítica aos costumes jornalísticos. Não sou ingênuo o suficiente para afirmar que a melhor notícia do dia deveria ser algo que influenciasse na vida de todos os cidadãos, como, sei lá, o movimento em Brasília. Isso até é notícia, mas é considerado chato - e é, realmente.
Nem quero falar sobre a "espetacularização do jornalismo", porque alguém já disse isso antes e eu não me lembro quem.
É algo mais pé no chão. Pensar no que é o jornalismo, hoje em dia. Para que serve. Acho que serve para vender jornal. Ou, em outras palavras, entreter. Aliás, exagerando um pouco a mão, sempre serviu, apenas o conceito de diversão era bem diferente do de agora. Provavelmente, a única regra ainda válida para o jornalismo e que, talvez, servirá para sempre é a de que notícia é quando o homem morde o cachorro.
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
sábado, 27 de janeiro de 2007
Como virar uma partida praticamente perdida
Vou contar toda a saga cronologicamente porque faz mais sentido. Saí correndo do trabalho para conseguir chegar antes do horário marcado para o início do show. Chegando ao Metropolitan (ah, não é esse nome mais?), descobrimos que só havia uma bilheteria, do lado de fora do shopping (uma casa de show não pode ficar num shopping). Havia somente uma fila, IMENSA, na hora que, em tese, a apresentação deveria começar (por sorte atrasou). Descobri, em alguns instantes, que a fila era única, mas as formas de pagamento, não. Ou seja, quem só tinha cartões, deveria dar passagem para quem tinha dinheiro. Isso fazia do ambiente, já nitidamente tenso porque estávamos todos atrasados e porque era habitado, principalmente, por estar apinhado de gente que se acha mais importante que o do lado, sem nenhuma razão importante para tal, um local não muito pacífico.
Certo momento, o segurança gritou “quem vai pagar em dinheiro, passa a frente”. Uma garota demorou e uma outra, três pessoas atrás dela, empurrou o grupo. A da frente não pensou duas vezes, empurrou de volta, atingindo a de trás. Começou uma discussão que só foi apartada pela galera do deixa-disso instantes depois. Houve outras confusões, outros empurras-empurra, outras discussões grosseiras, mais demonstrações de falta de educação, até que um cara perguntou quem ia pagar com um cartão “x”. Eu poderia pagar, caso isso me adiantasse. Fui em direção ao caixa, duas pessoas à minha frente. Clima tensíssimo, pessoas ainda se estranhando, outras se xingando, faltava muito pouco para haver uma brigalhada geral. Demora enorme, chega a minha vez. O cara tenta uma, duas, três, quatro vezes e diz que não dava, não estava passando. Logo na minha vez. Peço para R. ficar em outra fila enquanto eu ia pegar dinheiro para tentar a alternativa. No caminho penso seriamente em desistir da idéia de vermos o show. Já estava achando que não valeria a pena pagar tão caro – literal e metaforicamente falando – para assistirmos a Ben Harper. Como é presumível, nada contra ele, tudo contra a organização.
Volto em poucos minutos, ela nem tinha se mexido, tão grande era a fila dela. Vamos para outra, a de cash. Na nossa vez, a moça preenche o verso do ingresso calmamente, como se o show fosse somente na semana que vem. Descubro com um camarada que a apresentação ainda não começou e corro com R. para chegarmos o mais rápido possível.
Entramos e percebo que a casa estava lotada. Não sei se todos ali conhecem o cantor, compositor e multiinstrumentista californiano, eu mesmo me considero um leigo, por só ter quatro CDs dele, mas o que me chama a atenção é que o clima continua tenso. As feições das pessoas estão fechadas, nervosas. Penso que não deveria ter vindo. Teoricamente tinha que dormir, no dia seguinte faria uma operação.
Estacionamos em um ponto que poderíamos tentar ver o palco sem a ajuda do telão. Em poucos instantes ele sobe ao palco, calmamente, sem parecer um sujeito conhecido em meio mundo, low-profile como sempre pareceu ser. Senta em seu banquinho, cata a sua guitarrinha de colo e arrebenta em “Ground on Down”. O povo, ato reflexo à música, começa a sacudir. É automático, mesmo que eles não quisessem, não daria para ficar imune àquela combinação baixo-bateria-guitarras-teclados-percussão. Aliás, a banda merece um parágrafo à parte.
Todos são grandes músicos que acompanham à perfeição a montanha-russa do repertório que vai do hard-rock que não faria feio frente a nenhum Jimmi Hendrix, passando pela soul, gospel, até chegar ao reggae de Bob Marley. Todos têm o seu momento de solo, seja o percursa (Leon Mobley), o supermegahiperbaixista (Juan Nelson), o tecladista (Jason Yates), o batera (Oliver Charles) ou o guitarrista (Michael Ward). Todos se doam para a música, não querendo aparecer mais que ninguém – isso incluindo também, claro, Ben Harper.
O show começou, então, porradeiro. Solos grandes, encorpados, Harper tirando todas as notas possíveis da sua guitarra de colo. Pouco depois, R. começa a passar mal, pressão baixa. Tivemos que sair da área do som e, outra situação péssima. Para comprar uma água havia uma (outra) fila imensa. Depois de esperar uns 20 minutos para ser atendido, descubro que eles não vendiam tíquetes de bebidas, você tinha que comprar o que queria na hora e se quisesse mais, teria que enfrentar novamente toda a fila. Compramos, de uma vez, quatro águas então. Pensei que não era para termos vindo. Tudo estava dando errado.
Voltamos ao show, mas completamente fora de sintonia. Nem me lembro direito quais nem que músicas ele tocou até o fim (a última, foi a mesma de sempre “With my own two hands”). Estava desatento. Quando os músicos saíram do palco, cogitei fortemente ir embora. Era tarde, deveria acordar às 7h do dia seguinte, para fazer uma cirurgia, não creio que era aconselhável dormir tão pouco. Mas o pouco de teimosia que carrego comigo me impediu de sair. Uns 15 minutos depois (tempo suficiente para burn one down), Ben Harper volta solo, para um momento voz e violão. Músicas belas, mas que não me marcaram. Depois, os outros instrumentistas voltaram aos seus postos. E, então, toda a minha expectativa mudou.
Houve o momento homenagem ao Brasil, quando ele anunciou que a música composta há quase dez anos, quando ele veio pela primeira vez para o Free Jazz. Houve o momento participação especial com a presença do Donavon Frankenreiter, o pupilo do pupilo Jack Johnson, e de Matisyahu, o judeu ortodoxo do reggae, hip-hop e ragga, ambas beeem legais. Mas o melhor momento foi o da oração. Ponto parágrafo.
No único instante em que ele cantou uma música (“Where Could I Go”) do meu álbum favorito (o que ele canta com os Blind Boys of Alabama) há uma diminuída ao fim da música. Ben pede para que o público faça silêncio, o público demora a responder – não são, na sua maioria, muito educados – e começa a cantar / rezar fora do microfone, como um pastor de uma igreja à beira do Mississipi. Costumo dizer que a minha religião está na música, mas há certos artistas que levam isso mais a sério. Harper, principalmente nesse CD, e, durante o show, especialmente nessa música, ele conseguiu chegar próximo do transcendental. O público observava atônito, boquiaberto, querendo aplaudir a cada pausa para ele pegar mais fôlego, mas ele pedia para acabar o seu hino primeiro. Eu sei que ele usa o mesmo “artifício” em todos os shows, mas comigo, funcionou perfeitamente.
Depois, partida já ganha, de virada, o clima foi se apaziguando, aterrissando, até que, inexplicavelmente, as luzes da casa se acenderam, durante o cover de “Get up, stand up”. Todos os músicos se enrolam na mesma bandeira do Brasil e Ben Harper pede para falar umas últimas palavras para o público. Em primeiro lugar, ele se desculpa por estar falando em inglês. Em seguida, ele diz que ainda tinha muitas músicas para tocar, mas que tinha que terminar. Agradece ao público brasileiro por acompanhar todas as músicas tocadas com o mesmo vigor. Ele diz que para seguir os “Innocent Criminals” não é nada fácil. Diz que isso não se encontra em todos os lugares. Poderia ser mais um desses elogios lugar-comum, tão ao gosto dos artistas gringos que vêm ao Brasil, mas não parece o caso para um sujeito que vai fazer um “diários de motocicleta” no Brasil até o carnaval.
ps. Caetano Penna sugere um excelente vídeo dO Momento do show. Voto.
Certo momento, o segurança gritou “quem vai pagar em dinheiro, passa a frente”. Uma garota demorou e uma outra, três pessoas atrás dela, empurrou o grupo. A da frente não pensou duas vezes, empurrou de volta, atingindo a de trás. Começou uma discussão que só foi apartada pela galera do deixa-disso instantes depois. Houve outras confusões, outros empurras-empurra, outras discussões grosseiras, mais demonstrações de falta de educação, até que um cara perguntou quem ia pagar com um cartão “x”. Eu poderia pagar, caso isso me adiantasse. Fui em direção ao caixa, duas pessoas à minha frente. Clima tensíssimo, pessoas ainda se estranhando, outras se xingando, faltava muito pouco para haver uma brigalhada geral. Demora enorme, chega a minha vez. O cara tenta uma, duas, três, quatro vezes e diz que não dava, não estava passando. Logo na minha vez. Peço para R. ficar em outra fila enquanto eu ia pegar dinheiro para tentar a alternativa. No caminho penso seriamente em desistir da idéia de vermos o show. Já estava achando que não valeria a pena pagar tão caro – literal e metaforicamente falando – para assistirmos a Ben Harper. Como é presumível, nada contra ele, tudo contra a organização.
Volto em poucos minutos, ela nem tinha se mexido, tão grande era a fila dela. Vamos para outra, a de cash. Na nossa vez, a moça preenche o verso do ingresso calmamente, como se o show fosse somente na semana que vem. Descubro com um camarada que a apresentação ainda não começou e corro com R. para chegarmos o mais rápido possível.
Entramos e percebo que a casa estava lotada. Não sei se todos ali conhecem o cantor, compositor e multiinstrumentista californiano, eu mesmo me considero um leigo, por só ter quatro CDs dele, mas o que me chama a atenção é que o clima continua tenso. As feições das pessoas estão fechadas, nervosas. Penso que não deveria ter vindo. Teoricamente tinha que dormir, no dia seguinte faria uma operação.
Estacionamos em um ponto que poderíamos tentar ver o palco sem a ajuda do telão. Em poucos instantes ele sobe ao palco, calmamente, sem parecer um sujeito conhecido em meio mundo, low-profile como sempre pareceu ser. Senta em seu banquinho, cata a sua guitarrinha de colo e arrebenta em “Ground on Down”. O povo, ato reflexo à música, começa a sacudir. É automático, mesmo que eles não quisessem, não daria para ficar imune àquela combinação baixo-bateria-guitarras-teclados-percussão. Aliás, a banda merece um parágrafo à parte.
Todos são grandes músicos que acompanham à perfeição a montanha-russa do repertório que vai do hard-rock que não faria feio frente a nenhum Jimmi Hendrix, passando pela soul, gospel, até chegar ao reggae de Bob Marley. Todos têm o seu momento de solo, seja o percursa (Leon Mobley), o supermegahiperbaixista (Juan Nelson), o tecladista (Jason Yates), o batera (Oliver Charles) ou o guitarrista (Michael Ward). Todos se doam para a música, não querendo aparecer mais que ninguém – isso incluindo também, claro, Ben Harper.
O show começou, então, porradeiro. Solos grandes, encorpados, Harper tirando todas as notas possíveis da sua guitarra de colo. Pouco depois, R. começa a passar mal, pressão baixa. Tivemos que sair da área do som e, outra situação péssima. Para comprar uma água havia uma (outra) fila imensa. Depois de esperar uns 20 minutos para ser atendido, descubro que eles não vendiam tíquetes de bebidas, você tinha que comprar o que queria na hora e se quisesse mais, teria que enfrentar novamente toda a fila. Compramos, de uma vez, quatro águas então. Pensei que não era para termos vindo. Tudo estava dando errado.
Voltamos ao show, mas completamente fora de sintonia. Nem me lembro direito quais nem que músicas ele tocou até o fim (a última, foi a mesma de sempre “With my own two hands”). Estava desatento. Quando os músicos saíram do palco, cogitei fortemente ir embora. Era tarde, deveria acordar às 7h do dia seguinte, para fazer uma cirurgia, não creio que era aconselhável dormir tão pouco. Mas o pouco de teimosia que carrego comigo me impediu de sair. Uns 15 minutos depois (tempo suficiente para burn one down), Ben Harper volta solo, para um momento voz e violão. Músicas belas, mas que não me marcaram. Depois, os outros instrumentistas voltaram aos seus postos. E, então, toda a minha expectativa mudou.
Houve o momento homenagem ao Brasil, quando ele anunciou que a música composta há quase dez anos, quando ele veio pela primeira vez para o Free Jazz. Houve o momento participação especial com a presença do Donavon Frankenreiter, o pupilo do pupilo Jack Johnson, e de Matisyahu, o judeu ortodoxo do reggae, hip-hop e ragga, ambas beeem legais. Mas o melhor momento foi o da oração. Ponto parágrafo.
No único instante em que ele cantou uma música (“Where Could I Go”) do meu álbum favorito (o que ele canta com os Blind Boys of Alabama) há uma diminuída ao fim da música. Ben pede para que o público faça silêncio, o público demora a responder – não são, na sua maioria, muito educados – e começa a cantar / rezar fora do microfone, como um pastor de uma igreja à beira do Mississipi. Costumo dizer que a minha religião está na música, mas há certos artistas que levam isso mais a sério. Harper, principalmente nesse CD, e, durante o show, especialmente nessa música, ele conseguiu chegar próximo do transcendental. O público observava atônito, boquiaberto, querendo aplaudir a cada pausa para ele pegar mais fôlego, mas ele pedia para acabar o seu hino primeiro. Eu sei que ele usa o mesmo “artifício” em todos os shows, mas comigo, funcionou perfeitamente.
Depois, partida já ganha, de virada, o clima foi se apaziguando, aterrissando, até que, inexplicavelmente, as luzes da casa se acenderam, durante o cover de “Get up, stand up”. Todos os músicos se enrolam na mesma bandeira do Brasil e Ben Harper pede para falar umas últimas palavras para o público. Em primeiro lugar, ele se desculpa por estar falando em inglês. Em seguida, ele diz que ainda tinha muitas músicas para tocar, mas que tinha que terminar. Agradece ao público brasileiro por acompanhar todas as músicas tocadas com o mesmo vigor. Ele diz que para seguir os “Innocent Criminals” não é nada fácil. Diz que isso não se encontra em todos os lugares. Poderia ser mais um desses elogios lugar-comum, tão ao gosto dos artistas gringos que vêm ao Brasil, mas não parece o caso para um sujeito que vai fazer um “diários de motocicleta” no Brasil até o carnaval.
ps. Caetano Penna sugere um excelente vídeo dO Momento do show. Voto.
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